São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 1996
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Começa festival das descobertas tardias

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo -que abre hoje sua 20ª edição ao público, com cerca de 140 longas- já foi dos chineses ou dos iranianos, dos independentes americanos ou do iugoslavo Dusan Makavejev.
Em 1996, pode ser uma mostra de descobertas tardias ou redescobertas oportunas.
Alguns nomes já vêm com reputação devidamente estabelecida no Brasil (Spike Lee, Mario Monicelli, Theo Angelopoulos, Manoel de Oliveira).
Mais fascinante, no entanto, pode ser seguir nomes menos conhecidos ou até desconhecidos. Aqui, uma relação de boas apostas.
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Eizo Sugawa - O japonês puxa a lista, com seus dois filmes mais recentes, inéditos no Brasil: "O Rio dos Vagalumes" (1987) e "Raros Sonhos Flutuantes" (1990).
Estão previstas, ainda, exibições de "Desafio à Vida" (1961), "Caça às Feras" (1973) e "Volúpia da Vingança" (1974).
O ex-"enfant terrible" da companhia Toho foi tão admirado, ou mais, entre os cinéfilos que frequentavam os cinemas da Liberdade nos anos 60, do que monstros sagrados do cinema japonês moderno, como Shohei Imamura e Nagisa Oshima. Depois, desapareceu.
Seus dois inéditos -em particular "Raros Sonhos Flutuantes"- mostram que o tempo não tirou a energia de Sugawa.
Eric Rohmer - Não é cineasta de um filme espetacular, e sim de obra, a exemplo de Jean Renoir ou Howard Hawks.
Pertenceu ao núcleo central da "nouvelle vague". Mas, ao contrário de Godard, Truffaut ou Chabrol, não agradava seus compatriotas.
Tem um temperamento retraído. Não vai a festivais. Talvez por isso tenha se imposto lentamente, ao longo dos anos.
Rohmer considera o sucesso uma armadilha e algo sem nada a ver com o cinema ou seu trabalho.
"Conto de Verão", que será exibido agora, foi um dos grandes sucessos da temporada em Paris.
Hou Hsio-Hsien - O diretor de Taiwan tem fama, na Europa, de ser tão importante quanto o chinês Chen Kaige.
Habitualmente, mergulha na história recente de seu país -árida e pouco conhecida por aqui, o que não facilita as coisas.
No ano passado, teve um de seus filmes apresentados na mostra, embora sem repercussão. Volta com "Adeus ao Sul".
Mohsen Makhmalbaf - O iraniano teve uma retrospectiva na 19ª Mostra, mas ainda era a sombra de Abbas Kiarostami (que escreveu "O Balão Branco", vencedor da competição). Volta agora com "Um Instante de Inocência" e "Gabbeh".
Makhmalbaf com frequência exacerba a tendência de Kiarostami de aproximar realidade e ficção. É um cineasta mais político (combateu o regime do xá, hoje se opõe aos excessos dos fundamentalistas).
Faz dessa aproximação entre real e ficção um modo de analisar a necessidade das pessoas de participarem de um mundo de sonhos (o do cinema).
Abolfazi Jalili - O Irã continua tendo uma produção a seguir. Há dois anos emplaca vencedores da mostra ("O Jarro" e "O Balão Branco").
"Uma História Real", de Abolfazi Jalili, usa um tema caro ao cinema daquele país: um cineasta em busca de ator.
Outra hipótese iraniana: "O Pai", de Majid Majidi.
Cinema de Nosso Tempo - Quem gosta de cinema não ficará indiferente à série de documentários da televisão francesa.
É, de longe, o trabalho mais importante feito sobre cinema em TV. Na mostra, serão apresentados sete (inclusive um sobre Jean Renoir, por Jacques Rivette, e outro sobre Robert Bresson).
Duas pérolas: os documentários Abbas Kiarostami e sobre a nouvelle vague. A série passa em vídeo.
A Hollywood Vermelha - Esse documentário -uma viagem ao tempo da perseguição promovida pelo macarthismo contra os comunistas e afins, desde o fim dos anos 40)- tem relevância histórica. O filme de Thom Andersen e No‰l Burch passa em vídeo.
Jorge Polaco - A aversão brasileira ao cinema argentino é conhecida. Em passado recente, nem um diretor radicado na Europa -Alejandro Agresti- distinguiu-se.
Polaco já esteve na 11ª Mostra, com "Diapasão", e passou em branco. Volta com "A Dama Regressa", seu filme mais recente, depois de ter ganho prestígio e prêmios em festivais europeus (Locarno e Amiens).
E a dama que regressa é Isabel Sarli, ícone do cinema latino-americano. É a aposta do Mercosul.
Otar Iosseliani - O georgiano radicado na França já foi premiado em Cannes, Veneza e Berlim. Ainda não agradou no Brasil, onde já teve exibidos, em mostras passadas, "Os Favoritos da Lua" (84) e "E a Luz se Fez" (89).
"Bandoleiros" chega ao Brasil após levar o prêmio especial do júri em Veneza.
Raoul Ruiz - Outro diretor que optou pela França. A diferença é que o chileno Ruiz ainda não tinha uma obra. É um cineasta de expressão francesa e à moda francesa (cerebral). Já teve seu "As Três Coroas do Marinheiro" exibido em TV. Vem com "Três Vidas e uma Só Morte".

Acompanhe a programação da 20ª Mostra no Acontece

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