São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 1996 |
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Iraniano 'subversivo' fala de Fellini e neo-realismo
AMIR LABAKI
"Gabbeh" e "Um Momento de Inocência", seu dois novos filmes programados para a 20ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, ainda não foram liberados para exibição em seu país. "Talvez tenha que desenvolver minha carreira fora do Irã", afirmou Makhmalbaf à Folha, por telefone, de Nova York, onde "Gabbeh" acaba de ser projetado. No total, contando-se também "A Noite do Rio Sayandeh" (1989) e "O Tempo de Amor" (1990), quatro dos 14 filmes dirigidos por Makhmalbaf estão vetados no Irã. Excluem-se da conta roteiros que não pôde realizar e filmes cortados na versão interna, como "Salve o Cinema" (1995). Ainda inseguro do domínio de línguas estrangeiras, o cineasta preferiu utilizar um intérprete em inglês, respondendo à Folha em farsi (persa). * Folha -Algum dos candidatos a ator que se apresentou para "Salve o Cinema" afinal teve sucesso e está nos seus novos filmes? Mohsen Makhmalbaf -A garota que quer ir a Cannes e o rapaz que é um anti-herói estão em "Um Momento de Inocência". Intérpretes de personagens secundários também foram selecionados. Estão na versão curta de "Salve o Cinema", que foi vista em São Paulo. Folha -"Um Momento de Inocência" é marcadamente autobiográfico, reconstituindo um episódio marcante de sua militância política de juventude. A que tipo de grupo o senhor era vinculado? Makhmalbaf -Fazia parte de um grupo de resistência armada ao Xá (Reza Pahlavi). Era um grupo religioso, islâmico. Fui preso ao tentar desarmar um guarda e fiquei na prisão por quatro anos e meio. Folha -"Um Momento de Inocência" encena duas versões desse episódio. O senhor inspirou-se em "Rashomon" (1950) de Kurosawa? Makhmalbaf -Não vi o filme, mas o conheço. Um poeta iraniano, Moulavi, teve a mesma idéia. Ele escreveu que Deus tinha um espelho, o deixou cair e ele se estilhaçou. Cada pessoa pegou um pedaço e diz que conhece toda a verdade a partir daquele fragmento. A verdade foi dividida. Ninguém conhece a verdade integral. Essa mesma idéia está num filme anterior meu, "O Tempo do Amor". Folha -Como "Gabbeh" evoluiu de um documentário curto para um longa de ficção? Makhmalbaf -Tive que dizer ao governo iraniano que iria rodar um documentário para obter autorização para filmar. Quando a consegui, comecei a rodar o filme que eu queria, misturando documentário e ficção. O resultado é que "Gabbeh" ainda não teve permissão para ser exibido no Irã. O mesmo vale para "Um Momento de Inocência". O fato é que, apesar de ainda viver em Teerã, talvez tenha mesmo que desenvolver minha carreira fora do Irã. Folha -Seus dois novos filmes são co-produzidos por Marin Karmitz, um dos grandes produtores europeus. Como nasceu essa parceria? Makhmalbaf -Ele apenas paga (risos). A relação é o dinheiro. Nos conhecemos em Cannes. Folha - A influência do neo-realismo italiano sobre a nova escola iraniana é uma interpretação da crítica ou existiu de fato? Makhmalbaf -Fui muito influenciado pela "nouvelle vague" francesa e pelo neo-realismo italiano. Assisti a vários dos filmes desses movimentos em vídeo no próprio Irã. Me sinto especialmente próximo de "Ladrões de Bicicleta" (1948) de Vittorio de Sica e de "A Estrada" (1954) de Fellini, apesar deste último não ser exatamente neo-realista. Mas devo muito também a meus predecessores no cinema iraniano, principalmente a Shaid Salles. Fui marcado também pela poesia iraniana, Moulavi à frente, e por um escritor já morto chamado Soxaeb Texri. Folha -O senhor também é escritor. Tem tido tempo de escrever? Makhmalbaf -Não. Tenho estado muito ocupado com o cinema. Meu livro mais recente chama-se "Olá Sol" e é um roteiro que não me deixaram filmar. Há 700 anos, um garoto e uma garota tentam chegar à casa de Deus mas são impedidos por um grupo violento. A casa de Deus então vai até eles. Folha - Qual é então seu novo projeto cinematográfico? Makhmalbaf -Vou rodar meu próximo filme na Índia, na primavera do ano que vem. Não tenho um título ainda definido. É tudo que posso adiantar. Filme: Gabbeh Direção: Mohsen Makhmalbaf Onde: amanhã, CineSesc, às 21h50 Texto Anterior: Começa festival das descobertas tardias Próximo Texto: Conheça os cinemas do festival Índice |
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