São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 1996
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O bispo e o Estado

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Moderado, manso na fala, conciliador por temperamento, Vitor Buaiz (PT), governador do Espírito Santo, parece mais mineiro do que capixaba.
Por isso, chama mais a atenção quando diz, a propósito das reivindicações que os governadores estaduais estão fazendo ao Congresso e ao poder central: "Se não sair algo, largo isto aqui e entrego as chaves para o bispo".
Duvido que Buaiz vá renunciar, mas, se o fizer, estará agindo com certa lógica. O funcionalismo do Estado não recebe faz três meses, os médicos estão em greve há cinco, os hospitais estão fechando. Tudo na descrição não da oposição, mas do próprio governador.
É, portanto, mero síndico de uma massa falida.
Se fosse um problema apenas dos governadores, paciência. Mas uma edição especial dos "Braudel Papers", publicação do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, banco de cérebros do liberalismo, avisa: "O maior problema do Brasil agora é o câncer que se espalha nas falências de bancos e governos estaduais".
Assina o texto o jornalista Norman Gall, diretor-executivo do instituto em São Paulo. Nhenhenhém neoliberal? Não. Gall adverte também que "a opção ideológica do Banco Central (a privatização, no caso do Banespa) não é viável".
Pena que o espaço não permita nem sequer resumir os sólidos argumentos de Gall em seu alentado trabalho. Mas vale reter números de outro texto da mesma publicação, de autoria de Celso Martone (USP).
Martone, aliás, coincide com trabalho do Ipea, banco de cérebros do próprio governo, ao lembrar que o grande entrave a um sólido crescimento econômico (6% ao ano) é a escassez de poupança pública (na verdade, ela é hoje negativa, de menos 3%).
Mantida essa situação, só mesmo um bispo pode dar um jeito, com seus contatos muito além do Banco Central, do Congresso e do Executivo.

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