São Paulo, sábado, 19 de outubro de 1996
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INFLAÇÃO E CORRUPÇÃO

O ex-ministro argentino da Economia, Domingo Cavallo, ressurgiu esta semana na cena pública com o ruído habitual: relançou acusações de corrupção contra o governo do presidente Carlos Menem, do qual, aliás, fez parte desde a posse, em 1989, até meados deste ano.
Pode não haver grande surpresa nas novas denúncias, mas elas servem para realçar o extraordinário benefício político que a estabilização da economia confere a quem se identifica com ela. No início de seu governo, Menem também foi acossado por denúncias graves, inclusive a de envolvimento de pessoas de seu círculo íntimo e familiar com o narcotráfico.
As acusações foram um dos temas dominantes na política argentina, até que o Plano Cavallo (abril de 91) domasse a inflação. A partir de então, praticamente desapareceram do debate. O silêncio em torno do assunto permitiria até supor que a estabilização não reduz apenas a inflação, mas também a corrupção.
Aliás, um argumento desse gênero foi usado pelo próprio presidente Menem: o fato de ter reduzido o tamanho do Estado teria contribuído para minimizar a corrupção.
Vê-se agora que o problema é mais complexo. O fato de a economia argentina estar enfrentando dificuldades desde a crise mexicana de dezembro de 94 faz com que denúncias voltem a ser ouvidas com atenção.
É verdade que Cavallo não apresentou uma única prova para embasar as novas acusações, como também é verdade que ele mesmo enfrenta processos sob acusações de corrupção.
Mas o ambiente mudou tanto que o próprio presidente argentino se viu forçado a chamar os correspondentes estrangeiros para rebater as acusações de seu ex-ministro.
Vale um paralelo com o Brasil, na forma de pergunta que jamais terá resposta: se Fernando Collor tivesse abatido o monstro da inflação com um só tiro, como prometeu, teria sido afastado pelo impeachment?

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