São Paulo, sábado, 19 de outubro de 1996
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O tamanho do anão fascista

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Alguém já disse que todos nós abrigamos, em algum canto escuro da alma, um "anão fascista".
Vê-se agora, pela pesquisa do Latinobarômetro, feita em 17 países latino-americanos e na Espanha, que o "anão fascista" é menos anão do que eu, pelo menos, gostaria.
Afinal, 34% dos consultados, em todo o subcontinente, ou preferem um governo autoritário ou estão se lixando para o fato de o governo ser democrático ou autoritário. No Brasil, é pior: sobe a 45% a porcentagem dos que gostam do autoritarismo ou não se importam com o regime.
É a minoria, claro, mas uma minoria assustadora. Representa massa de manobra suficiente para despertar tentações em qualquer bonapartista de plantão, que, de resto, sempre existem (vide Alberto Fujimori e vide também o silêncio em torno do autogolpe que aplicou anos atrás).
Mas é também um resultado natural: a pesquisa mostra que apenas 27% dos consultados (20% dos brasileiros) estão satisfeitos com a eficiência da democracia.
Na Argentina que saía em 1983 de uma das mais cruéis ditaduras da história, Raúl Alfonsín elegeu-se dizendo que, com democracia, os argentinos comeriam mais, teriam uma saúde melhor, uma educação melhor etc.
Teve que deixar o poder seis meses antes da data constitucional porque, em essência, os argentinos não comiam mais nem tinham saúde e educação melhores.
O pior é que os governantes em geral (e o brasileiro em particular) fecham os olhos aos sentimentos do público. A mesma pesquisa diz que 75% dos consultados acham que a pobreza aumentou em seus países.
Os dados estatísticos podem até provar o contrário, como é o caso do Brasil. Mas a percepção do público é tão ou mais importante do que estatísticas. Cria o "feel bad factor", esse sentir-se mal que é uma característica do mundo moderno e só faz alimentar o anão fascista.

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