São Paulo, domingo, 20 de outubro de 1996
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Mercado financeiro relativiza reeleição

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A reeleição de um presidente que comandou a estabilização da moeda e deu sequência a um programa de reformas de orientação liberal seria sem dúvida uma bênção, na visão predominante entre economistas do mercado financeiro. Mas não seria um milagre.
Em primeiro lugar, há problemas e também sucessos na política econômica que se tornaram praticamente independentes de quem é o presidente da República.
Ninguém imagina, por exemplo, que seja possível retomar políticas populistas ao ponto de acabar com a estabilidade.
A abertura comercial, mesmo com políticas compensatórias tópicas, também parece "imexível". São políticas que exigiram coragem e custaram empregos e posições no mercado, mas os benefícios parecem suficientemente maiores que os custos ao ponto de terem assumido um caráter praticamente irreversível.
México e Índia
Já no plano das reformas constitucionais e da privatização, a lentidão e as resistências políticas também parecem independer de quem ocupa o Planalto, tanto em função da realidade política nacional quanto pela dificuldade natural de toda privatização séria.
Veja-se o México e a Índia, por exemplo, onde a privatização está sendo reavaliada e, na prática, recua com a revelação de escândalos e impropriedades legais.
Se a reeleição sair, há também quem acredite que a lentidão de FHC torne-se até maior, pois seis anos a mais tirariam ainda mais o sentido de urgência das reformas.
Mas, pelo menos do ponto de vista financeiro, há uma vantagem evidente na reeleição, segundo alto executivo de banco estrangeiro.
Rolagem
O modelo econômico brasileiro sustenta-se no financiamento externo. Nos últimos anos, com a alta dos juros internos e a valorização cambial, houve uma avalanche de captação de recursos nos mercados internacionais por parte do setor privado, com destaque para os bancos.
A rolagem desses papéis, na hipótese de reeleição, fica sem dúvida mais fácil.
E quanto mais demorar para se definir a questão, menores os prazos e maiores os custos desse financiamento externo (que atende do comércio exterior ao setor imobiliário, passando pelas multinacionais e mesmo algumas importantes empresas estatais).
Assim, tecnicamente, é verdade que, se a reeleição não sair, ou mesmo se demorar para ser decidida, as dificuldades para fazer a economia crescer com financiamento externo devem aumentar.

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