São Paulo, domingo, 20 de outubro de 1996
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PFL propôs plebiscito para o dia da eleição municipal

Idéia partiu do próprio presidente do PFL, mas não prosperou

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

Tivesse a tese de um plebiscito sobre a reeleição surgido no debate político meses atrás, perderia o caráter de confronto entre o governo e a oposição.
Por um motivo bem simples: o plebiscito, terror dos governistas, tinha, então, um aliado absurdamente surpreendente: o deputado José Jorge (PE), presidente nacional interino do PFL, o partido que é considerado o mais sólido suporte de Fernando Henrique Cardoso.
O próprio José Jorge lembra que apresentou proposta para que se aproveitasse a eleição municipal de 3 de outubro para consultar o eleitorado a respeito da reeleição.
A idéia não prosperou nem sequer ganhou atenção da mídia e, agora, José Jorge a considera definitivamente arquivada.
"Em princípio, sou favorável a que consultas diretas digam respeito apenas a assuntos simples, relativos ao dia-a-dia das pessoas", afirma o deputado.
O conveniente recuo pefelista deixa uma eventual campanha em favor do plebiscito, paradoxalmente, nas mãos de dois inimigos irreconciliáveis, o PT e o prefeito paulistano, Paulo Maluf (PPB).
Maluf assumiu a tese, publicamente, na quinta-feira, em entrevista ao novo canal de notícias da TV paga, o "Globonews".
O PT talvez o faça neste fim de semana, quando seu Diretório Nacional discutirá, entre outros assuntos, o quadro político nacional. Mas seu presidente, José Dirceu, já antecipa que "há uma grande simpatia pela tese" no partido.

Juntos? Se a "simpatia" se transformar em decisão de lutar pelo plebiscito, PT e Maluf estarão juntos no mesmo palanque?
Não, se depender de Dirceu. Para ele, o apoio de Maluf ao plebiscito é "apenas retórico". "Ele quer ser presidente da República, e o nosso problema é outro."
O problema do PT, sempre segundo seu presidente, é antever uma inclinação ao autoritarismo em FHC, cuja expressão máxima seria exatamente tentar aprovar a reeleição para ele próprio.
A questão restante é saber se só Maluf ou só o PT pode servir do que o senador Esperidião Amin (SC), presidente nacional do PPB, chama de "motor de arranque" de uma campanha pró-plebiscito.
"Menos ruim"
Por isso, inclina-se pelo plebiscito apenas como "menos ruim para a democracia" (do que uma decisão apenas congressual).
Posições como essa parecem dar razão ao senador Amin quando ele diz que a idéia ainda não ganhou corpo e, por isso mesmo, precisa do "motor de arranque".
Até porque a análise do senador indica que, do lado oposto ao plebiscito, já há dois grandes adversários, com contornos perfeitamente definidos:
1) o conjunto dos que querem se reeleger, o que inclui Fernando Henrique, governadores e prefeito. "O rosto desse povo todo é FHC, justa ou injustamente", constata o presidente do PPB;
2) o espírito de corpo do Congresso, "que é muito cioso de suas prerrogativas" e, portanto, pouco inclinado a transferi-las para outros, ainda que os outros sejam o conjunto do eleitorado.
José Jorge reforça essa análise, ao lembrar que a proposta de convocação de plebiscito sobre a pena de morte nunca prosperou no Congresso por um motivo simples: a maioria acha que a população aprovaria a pena de morte, mas acha também que ela não convém ao país.
Por isso, o Congresso segurou a proposta até que morresse o seu grande inspirador, o deputado federal Amaral Netto.
"Pode ser uma voz na multidão", filosofa Amin.
"O PT não pode cruzar os braços", diz Dirceu.

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