São Paulo, domingo, 20 de outubro de 1996
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Sem-teto vivem até em trenzinho de concreto

ROGERIO WASSERMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

A falta de opções de moradia em São Paulo está levando os sem-teto da cidade a encontrar alternativas para o problema.
Com criatividade e um pouco de sacrifício, um carro, uma banca de jornal, um buraco numa ponte e até um trenzinho de concreto numa praça pública se transformam em habitações para até 12 pessoas.
A desempregada Maria Francisca Santana, 34, vive há quase três anos dentro de um trenzinho de concreto na praça Paulo S. Wright, em Pirituba (zona oeste de SP).
Viúva (o marido morreu no final do ano passado, dentro de um dos "vagões do trem"), ela hoje divide a "casa" com mais quatro pessoas, que foram chegando conforme a necessidade. Eles vivem do pouco dinheiro que ganham como catadores de papel e, principalmente, de doações dos vizinhos.
Edson Rodrigues do Nascimento, 55, é chamado carinhosamente de "paipai" por Maria Francisca, por ser o mais velho da turma de moradores do trenzinho.
Ele se mudou para lá há três meses, depois de perder a casa onde morava. "Já estive bem de vida, mas minha família tirou tudo de mim. Agora a minha família está aqui", diz.
O ex-ferroviário José Carlos Fagundes, 55, mora no trenzinho há cinco meses, depois que deixou seu emprego. "Não consegui me aposentar porque eu perdi meus documentos", diz.
A empregada doméstica desempregada Ivany Júlio da Silva, 46, é a mais nova moradora do trenzinho de Pirituba. "Não tem dois meses que estou aqui", diz.
Ela mudou para a praça depois de ser expulsa de casa pela irmã, depois de uma briga. Não guarda mágoas da família, mas sente falta dos três netos, com idades entre 3 e 11 anos. "O mais velho vem me visitar de vez em quando", conta.

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