São Paulo, domingo, 20 de outubro de 1996 |
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A era da gerência
LUÍS NASSIF Nos últimos 15 anos, o governo federal foi prisioneiro da Era dos Conceitos -um amontoado de idéias genéricas grandiosas, acadêmicas, pouco objetivas, cujo símbolo mais ostensivo eram os pacotes econômicos.A partir desta quarta-feira, é possível que dê o primeiro passo para a administração federal ingressar na Era da Gerência. Ou seja, na era das soluções objetivas e dos compromissos com sua implementação. Nesse dia, o presidente da República vai ligar seu computador e clicar um ícone com três homenzinhos estampados, chamando na tela o programa Lotus Notes. Embaixo do programa, o presidente terá diariamente o acompanhamento detalhado dos 42 projetos que compõem o "Brasil em Ação", definido no programa plurianual de investimentos. Haverá informações sobre os objetivos de cada projeto em si, os cronogramas físico e financeiro, a situação atual e dificuldades que poderão surgir mais à frente e que precisarão ser contornadas. Diariamente, o presidente consultará o sistema e, por meio do correio eletrônico, comandará o processo. Se julgar que alguma coisa não está andando bem, cobrará providências diretamente dos responsáveis. Ou então cumprimentará gestores bem-sucedidos, enfatizará suas prioridades, conseguindo um controle sobre atos de governo jamais obtido por qualquer antecessor -mesmo porque é controle típico da era da microinformática. Planejamento Esse modelo começou a ser montado em agosto, quando Antonio Kandir assumiu o Ministério do Planejamento e levou para a Secretaria do Planejamento José Silveira. Nos anos 80, Silveira foi responsável pelo mais importante programa industrial brasileiro, que culminou com o controle da tecnologia de águas profundas pela Petrobrás. Para tanto, foram montados 104 projetos simultâneos, envolvendo 80 instituições científicas, 50 brasileiras e 30 do exterior. Para dar conta do recado, Silveira recorreu aos princípios do "Project Manager" -metodologia criada durante o programa espacial americano, visando trabalhar em cima de projetos que envolviam várias empresas e departamentos. O programa não só mudou a exploração de petróleo submarino como a própria história do país. A partir dessa experiência, a alta tecnocracia pública -reunida em torno da Petrobrás, BNDES e Eletrobrás- criou a tecnologia das câmaras setoriais e os princípios da Teoria da Integração Competitiva, que serviram de base para o programa de abertura econômica do país. Implantação O primeiro passo do Planejamento foi conduzir o trabalho com definição clara do projeto e do objetivo, com começo, meio, fim, programação física, financeira, metas intermediárias e um sistema de informações para permitir acompanhamento e controle efetivo. Outra preocupação foi montar uma estrutura de gestão com responsabilidades bem definidas, que começam pelo presidente da República, passam pelos ministros e pelas entidades públicas que estão desembolsando o investimento e terminam em um gerente de projeto. Esse gerente será a figura-chave do processo -depois do presidente da República. Caberá ao gerente acompanhar diariamente o seu projeto e levantar todas as informações pertinentes, desde as metas físicas e financeiras até eventuais problemas que possam surgir mais à frente. Essas informações estarão disponíveis em tempo real, em uma rede fechada que vai interligar de 100 a 120 pessoas envolvidas. Os gerentes A qualidade do gerenciamento dependerá da qualidade e do uso compartilhado das informações e do chamado enfoque prospectivo- isto é, da antecipação de eventuais dificuldades que poderão surgir no decorrer do processo. Esse levantamento permitirá ao presidente se antecipar aos problemas. Para escolher o quadro de gerentes, o Planejamento definiu inicialmente o perfil com as características principais. Teria que ser profissional de alto nível, com conhecimento do projeto, mas não a ponto de ser especialista -para não se deter nos detalhes. Teria que dispor de grande capacidade de liderança, comunicação, negociação, planejamento e controle -porque seu papel seria o de aglutinador do processo. A partir dessa definição, deu-se início a um processo de discussão com cada ministério. Por meio de aproximações sucessivas, foi definido o corpo de gerentes. Se bem-sucedido, vai mudar substancialmente a qualidade da gestão pública no Brasil. É um espanto que se tenha levado tanto tempo para descobrir o óbvio. Mesmo tarde, é um passo extremamente bem-vindo. Texto Anterior: Globalização não é processo homogêneo Próximo Texto: Real alerta clientes sobre rentabilidade Índice |
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