São Paulo, domingo, 20 de outubro de 1996
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Negros são maioria dos islâmicos norte-americanos

CLÁUDIA TREVISAN
DE NOVA YORK

A Nação do Islã é a organização mais evidente de um fenômeno cada vez mais comum nos EUA: a conversão de negros ao islamismo.
A conversão é feita sob o argumento de que o islamismo era a religião original dos negros que vieram para os Estados Unidos como escravos e foram obrigados a adotar o cristianismo.
O movimento não é recente, mas vem crescendo nos últimos anos. O censo norte-americano não faz distinção sobre religião, o que impede um levantamento exato sobre o número de muçulmanos existentes no país.
Estimativas feitas pelo CMA (Conselho Muçulmano Americano) apontam para 5 milhões, ou 1,9% da população do país.
Desse total, 42% seriam negros. Os brancos norte-americanos representam apenas 1,6% dos islâmicos, segundo o CMA. O restante é formado por imigrantes de países muçulmanos.
A professora Yvonne Haddad, da Universidade de Massachusetts-Amherst, uma das maiores autoridades do país em cultura islâmica, considera superestimado o número apresentado pelo CMA.
Em sua opinião, o total de muçulmanos nos Estados Unidos gira em torno de 3 milhões.
Maior grupo
Apesar de ser a organização com maior presença na mídia, a Nação do Islã não é a que congrega o maior número de seguidores.
Vários especialistas ouvidos pela Folha afirmam que o ministro Warith Deen Muhammad é o líder muçulmano que reúne a maioria dos fiéis negros.
Warith é filho de Elijah Muhammad, o homem que fundou a Nação do Islã na década de 30 e que é venerado como o grande guia espiritual da organização.
Quando morreu, em 1975, Elijah escolheu o filho como seu sucessor e pediu que ele abandonasse o discurso de divisão racial da Nação do Islã e levasse a comunidade negra ao islã tradicional.
Esse caminho já havia sido adotado por Malcolm X, que na década de 60 deixou a Nação do Islã.
Farrakhan se recusou a seguir Warith e manteve a Nação do Islã, com a mesma pregação da supremacia racial negra.
Em razão de suas posições controvertidas, a Nação do Islã não é considerada uma organização muçulmana pelo CMA nem pela Sociedade Islâmica da América do Norte.
Os especialistas acreditam que a Nação do Islã deve ter cerca de 250 mil a 400 mil seguidores. O grupo de Warith congregaria pouco mais de 1 milhão de pessoas.
No sul dos Estados Unidos, há outra comunidade islâmica negra, comandada por Jamil al Amin.
O professor Hamid Dabashi, especialista em Oriente Médio e culturas asiáticas da Universidade de Columbia, aponta outra razão para a conversão de negros: o agressivo trabalho de grupos muçulmanos nas prisões do país.
O lutador de boxe Mike Tyson é o exemplo mais famoso de um negro que se converteu ao islamismo quando estava na prisão.
(CT)

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