São Paulo, domingo, 20 de outubro de 1996
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ALGUMA COISA ACONTECE

A chaminé, a buzina, a gravata, a construção, o semáforo, o indigente, o assalto, o outdoor, o shopping center, a greve, a concordata, o caixa automático, a favela, a avenida. A cidade de São Paulo. Túmulo do samba.
Os ícones paulistanos contrastam com a praia, a Bossa Nova, a música dos mineiros, baianos, pernambucanos. São Paulo é trabalho, mercado, investimento e política. Como opção de lazer, a cidade nos últimos anos destacou-se mais como referência nos roteiros da gastronomia.
Como sede de eventos, a Paulicéia tem sido muita coisa, mas pouco desvairada: aqui acontecem as grandes feiras de informática, da indústria têxtil ou do setor automobilístico. Na grande maioria, é o mercado que se apresenta como mercado, para consumidores e investidores.
De repente, São Paulo vê-se às voltas neste outubro -mês que havia alguns anos já ensaiava firmar-se como o momento cultural da cidade- com festivais de cinema, de música, a Bienal, entre outros. Há um mercado, dos maiores na América Latina, para artes e cultura. E a coincidência de dezenas de eventos de todos os portes cria para os de fora uma oportunidade única em escala rara.
O observador mais atento dirá que São Paulo sempre foi, ao menos de modo latente, um celeiro de idéias, obras e tendências. Foi mercado e centro produtivo, comercial e financeiro, mas foi também laboratório estético e espaço cultural poderoso. Da Semana de 22 ao Masp, dos concertos para as massas no Ibirapuera às ondas cíclicas de expansão das galerias, da vanguarda teatral nos anos 60 à geração "Lira Paulistana" nos 80, a cidade na verdade nunca parou.
Para produtores culturais, artistas, governos e público, para os restaurantes, hotéis e tantos outros, a enorme densidade cultural deste outubro mostra que São Paulo está mais viva do que nunca. Talvez seja a inflação "zero". Ou talvez de fato esteja acontecendo alguma coisa no vasto espaço em torno da esquina entre a Ipiranga e a São João.

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