São Paulo, domingo, 20 de outubro de 1996
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Antes, era mais fácil

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Depois que a democracia virou rotina na Espanha, os espanhóis cunharam uma expressão que refletia um pouco de tédio e um pouco de desgosto com os desencontros dos partidos e políticos que haviam lutado contra a ditadura franquista (1939/1975).
Era: "Contra Franco, vivíamos melhor".
De vez em quando, também acho que os brasileiros vivíamos melhor contra a ditadura. Ou, pelo menos, era mais fácil rotular as pessoas. Todos os que se opunham à ditadura eram mocinhos e todos os que a apoiavam, direta ou indiretamente, bandidos. Ou vice-versa, claro, conforme a ótica de cada qual.
Não era verdade, mas era cômodo.
Agora, a coisa complicou-se e, talvez, a disputa eleitoral em São Bernardo do Campo no segundo turno seja um bom exemplo. São finalistas duas pessoas que estavam antigamente do mesmo lado.
Tito Costa, então no PMDB, era o prefeito que abria para todos as portas do Paço Municipal, aquela torre plantada no centro da cidade. Servia de ponto de encontro, de conspiração ou, no mínimo, de lava-rápido para os pulmões cheios do gás lacrimogêneo que a PM lançava contra as manifestações sindicais.
Do último andar, podia-se ver a cidade quase toda e, principalmente, imaginar rotas de fuga para quando fosse necessário descer de novo.
Maurício Soares, seu adversário, era advogado do Sindicato dos Metalúrgicos, o grande embrião do que viria a ser o PT, pelo qual, aliás, já foi prefeito da cidade. E bem que os metalúrgicos precisavam de advogados naquela época.
Hoje, Tito Costa está no PFL, uma espécie de sublegenda do regime que punha a PM e seu gás lacrimogêneo nas ruas. E Maurício Soares está no PSDB, aliado, nacionalmente, ao PFL de Tito Costa.
Quem, então, é agora mocinho ou bandido? Ainda bem que não voto em São Bernardo.

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