São Paulo, domingo, 20 de outubro de 1996
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Pesos leves e pesados

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Nada mais idiota do que compararmos nossos índices disso ou daquilo com os do Canadá, do Japão, da França, da Alemanha, dos Estados Unidos.
As regras que controlam o boxe, feitas pelo pai daquele rapaz que desgraçou a vida de Oscar Wilde, são sábias e podem se aplicar às nações. No chamado "nobre esporte", um peso-pesado só pode medir forças com outro peso-pesado. Pesos-médios, pesos-pena, pesos-leve e pesos-mosca só enfrentam os da mesma categoria. Não faz sentido colocar Mike Tyson e o Betinho (ou d. Hélder Câmara) num ringue.
Levando o exemplo para as nações, há aquelas que são pesos-pesados (o G-7 em linhas gerais), há os pesos-médios (países escandinavos, Bélgica, Holanda, Espanha, Áustria etc.), pesos-leve e outros pesos. O Brasil ficaria, com alguma boa vontade, na categoria intermediária entre o peso-leve ascendendo ao peso-médio.
O governo proclama, desde o tempo dos militares, que somos a oitava economia mundial. As estatísticas nos colocam no último lugar em matéria de distribuição de renda, de distância entre os muito ricos e os muito miseráveis. A média resultante não dá para a fanfarronada de a toda hora invocarmos confrontos com os pesos-pesados.
Esse é o blefe da globalização. Que ela é rendosa e necessária aos pesos-pesados, ninguém discute. Um Mike Tyson teria vida mansíssima se lutasse contra os Betinhos, d. Hélder Câmara, Marcos Maciel etc. Pergunta: o que lucrariam os Betinhos, d. Hélder Câmara e Marcos Maciel com o confronto?
FHC é useiro em comparar o Brasil, que ele pensa estar governando, com os pesos-pesados da economia mundial. Já insinua até mesmo um G-8, incorporando-se aos sete habituais. Seria o caso de pedir ao macaco para olhar o seu rabo. Pessoalmente, gostaria de assistir a uma luta entre Tyson e d. Hélder Câmara valendo tudo.

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