São Paulo, segunda-feira, 21 de outubro de 1996
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O ISLÃ E A GLOBALIZAÇÃO

Ainda que, para um número crescente de observadores das relações internacionais, a globalização da economia neste fim de século pareça irreversível, é no mínimo temerário tomá-la desde já como um cânon inabalável, que não mereça qualquer tipo de questionamento.
É surpreendente, porém, que algumas reações a esse reordenamento mundial venham ainda marcadas por uma forte associação entre dois componentes culturais que aparentemente a modernidade já teria relegado à obsolescência: a xenofobia e o fanatismo religioso. Em alguns casos, proliferam os conflitos étnicos. Em outros, é o islamismo que amplia sua presença no cenário político, ameaçando uma das mais caras conquistas do mundo moderno: a separação entre Estado e religião.
A Argélia está imersa em cruenta guerra civil desde o golpe militar ocorrido em 92, que cancelou os resultados das eleições gerais, vencidas por fundamentalistas.
No Kuait, os islamitas obtêm a maior vitória desde 61. Na Turquia, pela primeira vez em 73 anos, um membro do principal partido islâmico ocupa o cargo de premiê. No Afeganistão, uma milícia fundamentalista consegue depor o governo, com respaldo popular significativo. Até mesmo nos EUA, o movimento negro Nação do Islã demonstra uma capacidade de mobilização popular nada desprezível.
Era de se prever que a transição das economias centralizadas para um sistema de maior competitividade no mercado internacional não ocorresse sem dificuldades. O que preocupa é o fato de se revelar ainda tão forte um certo "caldo de cultura" que, diante dos problemas (sobretudo sociais) acentuados pela globalização, alimenta soluções inspiradas no fanatismo e na intolerância.
Talvez esteja aí uma indicação de que, no momento, o desafio de "globalizar" ainda não responde aos anseios de segurança que transcendem a dimensão econômica dos países e dos cidadãos.

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