São Paulo, sábado, 2 de novembro de 1996
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Investigação aponta para falha mecânica como causa do acidente

DA REPORTAGEM LOCAL

As investigações feitas pela Polícia Civil e pelos peritos da Aeronáutica apontam para a ocorrência de uma falha mecânica como a principal causa do acidente ocorrido com o vôo 402 da TAM, que caiu sobre casas do Jabaquara, zona sul de São Paulo, anteontem, matando 102 pessoas.
"Pela informações que temos, pelos testemunhos e pelos indícios, a maior probabilidade é falha mecânica", afirmou o delegado Romeu Tuma Júnior, titular da Delegacia Seccional Sul e responsável pelo inquérito policial que apura as causas do acidente.
O problema mais provável seria a abertura do reverso da turbina.
Esse reverso funciona como um freio na hora do pouso. Se, por falha técnica, o mecanismo for acionado na decolagem, produz um efeito semelhante ao de um cavalo-de-pau em um carro. Isso ocorre porque, enquanto uma turbina empurra o avião para a frente, a outra freia.
É isso que pode ter acontecido com o Fokker-100 anteontem de manhã.
Em baixa velocidade, o avião não conseguiu subir, sofreu um desvio de trajetória, bateu em um prédio e se espatifou.
Mais de uma falha
Para que o reverso abra, segundo peritos da Aeronáutica, é necessário que mais de um sistema de segurança falhe.
Os sistemas mais comuns estão ligados ao trem de pouso e à velocidade do avião.
O reverso não abre, por exemplo, quando o trem de pouso (rodas) está recolhido ou se o avião estiver em alta velocidade (acima de 300 km/h) -nesses casos, nem o piloto pode acionar o mecanismo. Quando o Fokker-100 caiu, ele estava em baixa velocidade e com o trem de pouso aberto.
Segundo o tenente-coronel aviador Antonio Junqueira, 46, vice-chefe do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), se o reverso abriu, "ele superou todos os sistemas de segurança do avião, até o do piloto automático".
O piloto do Fokker-100 deveria estar treinado para a abertura do reverso na decolagem. É que essa é exatamente uma das situações criadas em simulação de vôo.
Segundo o coronel Flávio Lúcio Sganzerla, do 4º Comando Aéreo Regional, o piloto tem de saber de memória todos os procedimentos para resolver o imprevisto.
Um deles é o recolhimento do trem de pouso.
O piloto também deve reduzir e cortar o funcionamento da turbina com problema.
Oficialmente, o Cenipa considera que todas as hipóteses que estão sendo levantadas como causas do acidente são possíveis.
Segundo o coronel, até ato de sabotagem é considerado no momento. "Não podemos descartar nada."

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