São Paulo, sábado, 2 de novembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sobrevivente quer voar em 'avião grande'

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Marta Santa Rosa Chahine, 36, ocupava um dos três apartamentos situados sobre um supermercado da rua Jurupari.
Destroços do Fokker-100 da TAM destruíram anteontem o prédio. Marta, viúva com dois filhos menores, ficou ao relento.
Jorge, 9, e Ângelo, 8, dizem que não é em razão do acidente que ficaram com medo de avião. "Prefiro da próxima vez voar em avião grande", diz o mais velho.
Ambos já fizeram a experiência num curto vôo até a Praia Grande. Foi em companhia do pai, que era comerciante e morreu aos 38 anos, há sete meses, de complicações derivadas de uma infecção.
Mas a mãe, que uma única vez foi até o Rio pela Ponte Aérea, não demonstra tanta coragem em fazer as pazes com os aviões.
"Estava até pensando em um dia viajar com os meninos para fora do Brasil. Agora, não saio mais daqui", disse ontem, enquanto ajudava a carregar um caminhão com os eletrodomésticos que sobraram do acidente.
"Bombardeio"
Marta e os filhos estão hospedados no apart-hotel que a TAM reservou para os moradores do Jabaquara que perderam sua moradia.
Diz que ela e o filho mais velho, Jorge, estavam em casa quando "ouvimos aquele barulhão, como se fosse um bombardeio".
Minutos antes ela insistiu para que o garoto a acompanhasse numa das obras assistenciais em que ela presta serviço voluntário.
Marta conseguiu tirá-lo meio forçado da cama. O quarto dele foi justamente o cômodo mais atingido no acidente.
"Via difícil"
O prédio foi construído por seu sogro, e o marido o herdou. O imóvel hoje pertence a seu cunhado, que também administra os bens da família.
Mas Marta não se considera rica, embora possa manter um padrão superior ao de outros vizinhos, que pertencem à mais baixa das classes médias.
"A vida é muito difícil, e quero ver como fica essa indenização", diz ela, lamentando que só uma pesada reforma -"até as lajes estão comprometidas"- possa recolocar seu apartamento em condições de ser habitado.
(JBN)

Texto Anterior: Moradora teme outro acidente
Próximo Texto: 'Só me sobrou a calça', afirma 'sem-teto'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.