São Paulo, sábado, 2 de novembro de 1996 |
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'Só me sobrou a calça', afirma 'sem-teto'
JOÃO BATISTA NATALI
Quatro dos sete cômodos ruíram como garrafinhas de boliche, sob o peso de um grande pedaço do Fokker-100 da TAM. "Ali ficava a sala, ao lado o quarto do Daniel", diz ele, apontando para a parte da frente de um terreno, desde anteontem coberto de entulho. Daniel, 6, é o filho mais velho. Danilo é o menor. Tem só um ano e sete meses. O menorzinho dormia num dos cômodos dos fundos e estava em companhia da babá quando o avião acabou com a casa. Arnaldo e Eva nasceram em São Paulo. A família dele descende de camponeses alemães instalados em Santa Catarina. Ele chegou a cursar psicologia, e ela, pedagogia. Mas nenhum dos dois chegou a concluir a faculdade. A casa foi herdada de uma tia de Eva. "Com o que ela ganha, levaria uns 60 anos para podermos construir uma nova. Eu precisaria de uns 30 anos", constata Arnaldo, com uma ponta residual de lamento e bom humor. A família está agora hospedada na casa de uma cunhada, em Santo Amaro. As roupas foram destruídas. "Só sobrou essa calça", diz ele. A camiseta é emprestada. Arnaldo resgatou o berço do filho menor e a cama do bebê. Até o botijão de gás sumiu. Foi provavelmente enterrado pelo impacto da queda da turbina. "Deve ainda ter algum cadáver por aí", diz ele, apontando para o terreno. Arnaldo e a mulher nunca viajaram de avião, mais por não terem dinheiro. Agora, há também uma incompatibilidade emocional. "Viagem de pobre só chega até Mongaguá", afirma, novamente sarcástico -Mongaguá é um balneário no litoral sul paulista-, e lembra que ao menos não perdeu seu Uno Mille 1990, com que viaja diariamente por sua empresa para a manutenção de aparelhos de ar- condicionado da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). (JBN) Texto Anterior: Sobrevivente quer voar em 'avião grande' Próximo Texto: Divulgação leva 37% da verba do provão Índice |
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