São Paulo, domingo, 3 de novembro de 1996 |
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Indústria quer TJLP menor e mais crédito
GABRIEL J. DE CARVALHO
Algumas empresas já conseguem crédito externo mais barato do que o do maior banco de fomento do país. A TJLP vem caindo menos do que os juros internos. A preocupação com essa distorção levou o governo a rever a fórmula de cálculo da TJLP, conforme revelou à Folha, há duas semanas, o diretor de Planejamento do BNDES, Sérgio Besserman. Os estudos deverão ficar prontos nesta semana, segundo o ministro do Planejamento, Antonio Kandir. Desde o início de 95, as linhas de crédito do BNDES estão indexadas à TJLP, que há quase um ano vem se mantendo acima da TR. A TJLP, uma taxa básica anual de juros, mas recalculada a cada trimestre, está em 14,97%. Isso corresponde a 1,1693% ao mês, enquanto a TR "cheia" de outubro, por exemplo, foi de 0,7419%. Anualizado, esse percentual chega a 9,28%, ou seja, 5,69 pontos percentuais abaixo da TJLP. As linhas do BNDES estão custando entre 22% e 23% ao ano, pois além da TJLP o BNDES cobra juros de 3,5% a 4% ao ano e o banco repassador é remunerado por taxa de 3%. Operações acima de R$ 5 milhões podem ser contratadas diretamente no BNDES. Pela resolução 63, crédito externo pode ser tomado a 16% ao ano mais dólar, o que daria uns 24,6% (com a hipótese de o câmbio variar 0,6% ao mês). Grandes empresas conseguem captar dinheiro lá fora a 12% ou 13% ao ano (entre 20% e 21% com variação cambial). Opção para indústria O presidente da Abimaq e Sindimaq (entidades que representam a indústria de máquinas), Sérgio Magalhães, diz que as linhas de crédito do BNDES são mais baratas que as normais dos bancos. Apesar disso, Magalhães entende que a TJLP deve mesmo ser mais baixa, se aproximando das taxas vigentes em outros países. O próprio BNDES, lembra, já tem linha especial de crédito a 6% ao ano mais câmbio, para empresas brasileiras que participam de concorrências internacionais. Recentemente, disse, esse empréstimo foi fundamental para que a Bardella fosse vitoriosa em licitação de US$ 146 milhões para fornecimento de equipamentos à Usiminas, mesmo concorrendo com empresas japonesas. A Usiminas tem participação japonesa. Acesso difícil Mas reduzir a TJLP, afirma o empresário, não é a única proposta que vem sendo discutida entre o setor de bens de capital e o BNDES. De dez clientes, segundo ele, pelo menos quatro não conseguem ter acesso às linhas do BNDES indexadas à taxa de longo prazo. Com exceção de algumas instituições, como Banco do Brasil e Bradesco, a rede bancária não tem tido interesse em repassar linhas do BNDES, diz ele. Magalhães atribui a resistência dos bancos à questão da rentabilidade da operação e ao risco da inadimplência. Esse último temor, afirma, poderia ser contornado com a criação do seguro de crédito para metade da operação. Segundo Magalhães, o seguro poderia ser custeado por fabricantes, compradores e pelos bancos. A Folha apurou, junto ao setor bancário, que o repasse de linhas do BNDES não é de fato atraente porque a rentabilidade é relativamente baixa (3%), o repasse é imediato (não há floating) e mesmo assim as operações são consideradas normais para efeito de limite de crédito de cada instituição. Com o risco de inadimplência, os bancos ficam ainda mais arredios. Texto Anterior: Demissionários recebem R$ 56 mi Próximo Texto: Título externo pesa no cálculo Índice |
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