São Paulo, domingo, 3 de novembro de 1996
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Agricultura sai do sufoco e anima interior

LUIZ ANTONIO CINTRA
ENVIADO ESPECIAL A RIBEIRÃO PRETO

A região nordeste do Estado de São Paulo, que tem a cidade de Ribeirão Preto como centro mais importante, está recebendo uma injeção de ânimo: R$ 900 milhões, que saem da agricultura para irrigar as economias locais.
É quanto deve chegar -em alguns casos, já chegou- aos agricultores que plantam ali cana-de-açúcar, laranja, soja e café, seguindo a ordem de importância.
O cálculo, a rigor, baseado em estimativa de produção do Instituto de Economia Agrícola (IEA) do Estado de São Paulo, considera o que foi colhido desde março -e ainda vai ser colhido até março de 97- na região.
Região que, além de Ribeirão, onde o forte é a cana-de-açúcar, tem ainda outros pesos pesados da agricultura estadual e em alguns casos da nacional.
Cidades como Araraquara e Olímpia, onde a laranja se destaca, Franca e Batatais (café), Orlândia (soja), entre outras cidades, num total de mais de 80 municípios.
No caso da laranja, por exemplo, o IEA estima que a safra, que vai de junho a dezembro, deve render algo como 140 milhões de caixas. Só aí são aproximadamente R$ 364 milhões que vão engordar os cofres dos agricultores.
Nesse item, por sinal, a região é pra lá de forte. Deve manter a média do resultado dos últimos anos em termos de participação na produção nacional: metade do total.
A região vai bem também na soja. Orlândia (35 mil habitantes, a 65 km de Ribeirão) responde por metade da produção do Estado: 9 milhões de sacas.
Situação melhor
"Não há dúvida que neste ano a situação para a região é claramente melhor que a do ano passado", diz o economista Fernando Homem de Melo, professor da FEA/USP especializado em economia agrícola.
Homem de Melo destaca a soja como um dos itens que melhorou para o produtor.
"A situação da soja melhorou bastante, por causa da alta do preço no mercado internacional", diz.
Além da soja, avalia, a situação hoje é mais favorável para quem se dedica ao milho (que terminou de ser colhido em setembro), à cana-de-açúcar e ainda à pecuária.
Nelson Martim, pesquisador do IEA, acrescenta ainda a melhor condição de comercialização para a laranja, cujo preço ao produtor passou de R$ 1,10, em outubro do ano passado, para os atuais R$ 2,60, no caso da caixa de 40 quilos.
"Com a alta dos preços, a economia da região começa a se recuperar. A agroindústria dá o arranque", diz o pesquisador.
Além do preço, a agricultura se beneficia também do processo de securitização das dívidas.
Com isso os agricultores podem equacionar parte de suas dívidas, conforme as expectativas de produção para as próximas safras, já que a securitização atrela as parcelas a serem pagas à produção e não a um índice de correção.
Desemprego
Para o economista Antonio Vicente Golfetto, da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão, a situação melhorou, mas depois de ter estado muito ruim em 95.
"A renda agrícola deve crescer entre 10% e 20%, mas devemos voltar ao mesmo nível de 94."
Um indicador que reforça a tese é o número de imóveis comerciais vagos na cidade: cresceu 1.050 unidades, segundo a associação.
A situação econômica da região está melhor, todos admitem, mas nada que permita euforia.
Num cálculo aproximado, Golfetto estima que existam 9.000 pessoas desocupadas em Ribeirão. A média histórica é de 6.000 pessoas.

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