São Paulo, terça-feira, 5 de novembro de 1996
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ELEIÇÃO INSÍPIDA

Os norte-americanos vão hoje às urnas em meio a tão grande desinteresse, interno e externo, que nem parece tratar-se do pleito que escolhe o governante mais poderoso do mundo, o homem que dirige a única superpotência restante na superfície do planeta, desde o desmantelamento da União Soviética.
O difícil é dizer se essa apatia é uma boa ou uma má notícia. De um lado, reflete uma enorme indiferenciação entre as propostas dos dois principais candidatos, o atual presidente democrata, Bill Clinton, e seu rival republicano, o senador Bob Dole.
Por isso mesmo, não há na contenda eleitoral a dose normal de emoção fornecida por uma escolha entre políticas antagônicas ou, ao menos, bastante diferentes. Basta lembrar um dado: são os republicanos que têm a fama, merecida ou não, de austeros com o gasto público. No entanto, foi Clinton, um democrata, quem pôde anunciar, na semana passada, o mais baixo déficit federal em 15 anos (período, aliás, em que os EUA foram governados exclusivamente pelos republicanos, com a óbvia exceção do próprio Clinton nos quatro anos mais recentes).
Pode-se tomar a abulia em que transcorreu a campanha como reflexo de que todos os problemas estão resolvidos e, portanto, é indiferente quem se eleja. Os recentes incidentes raciais na Flórida mostram o contrário: os contrastes sociais nos EUA são suficientemente agudos para provocar, aqui e ali, explosões incontroladas que não passam por qualquer mediação política.
Por fim, chama a atenção também o fato de que uma sociedade supostamente moralista e atenta a valores éticos tenha desprezado as incontáveis denúncias sobre deslizes cometidos por Clinton e usados como tema de campanha por Dole, aparentemente sem efeito.
Tudo somado, fica a sensação de que a eleição de hoje é mais um grande espetáculo do que a escolha entre personalidades e políticas capazes de mudar alguma coisa.

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