São Paulo, quarta-feira, 6 de novembro de 1996
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Crise no campo leva 155 mil trabalhadores ao desemprego

Pesquisa da Fundação Seade compara os anos de 96 e 95

JOSÉ ALBERTO GONÇALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O total de empregos agrícolas no Brasil caiu 2,1% este ano, em comparação com o número do ano passado.
O percentual significa que cerca de 155 mil pessoas perderam o emprego no campo, de acordo com o Sensor Rural, boletim lançado na semana passada pela Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados).
No ano passado, estavam ocupados com atividades agrícolas 7,501 milhões de trabalhadores. O número diminuiu este ano para 7,347 milhões, segundo o Sensor Rural.
"É um dado muito preocupante, pois calculado em cima do total de ocupados", diz José Graziano da Silva, coordenador do Sensor Rural e professor da Unicamp.
Silva afirma que a Seade ainda não concluiu o cálculo do número de desempregados agrícolas.
Nos dados regionais, o Sudeste e o Sul foram as regiões onde houve as quedas mais acentuadas no total de empregos agrícolas, 5% e 4,8% respectivamente.
O Nordeste foi a única região que contou com crescimento (0,9%), devido, entre outros fatores, à maior demanda de empregos nas lavouras de cacau e cana.
Por cultura, o algodão foi a que registrou as maiores reduções de emprego agrícola.
Na lavoura de algodão arbóreo, plantado no Nordeste, a queda foi de 29%. Na de algodão herbáceo, houve diminuição de 24,3% no total de empregados agrícolas.
Volta ao meio rural
"Está ocorrendo um incremento de atividades não-agrícolas no meio rural", afirma Silva.
Isso pode ser comprovado, segundo o pesquisador, pelo crescimento de atividades como agroindústria, construção civil, comércio, serviços, condomínio e lazer.
"O que me espanta é que o governo tem atrapalhado muito o desenvolvimento de atividades não-agrícolas na zona rural", diz.
A legislação brasileira, explica, pune o uso não-agrícola de áreas rurais.
Para ele, o estímulo a essas atividades poderia gerar mais renda no meio rural, com o consequente aumento no nível de emprego e a atração de pessoas das cidades.
Silva acha que o governo poderia se inspirar no programa Líder da UE (União Européia) para adotar políticas de incentivo a atividades não-agrícolas no meio rural.
Na Província de Andaluzia, sul da Espanha, diz, o programa da UE estimulou produtores de oliva a implantarem o turismo rural.
Como não interessa à UE o aumento na produção de azeite de oliva, pois há excedentes do produto, o programa incentivou, com créditos, os agricultores a combinar o trabalho na lavoura com o turismo, que hoje chega a gerar uma renda até dez vezes superior à da agricultura.
A região da Andaluzia é uma rota tradicional de passagem dos turistas dos países nórdicos que descem o continente europeu em busca do mar Mediterrâneo.

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