São Paulo, quarta-feira, 6 de novembro de 1996
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Redução das doses faz terapia fracassar

JAIRO BOUER; LUCIA MARTINS
DOS ENVIADOS ESPECIAIS

Uma redução nas doses recomendadas do coquetel tríplice de drogas para a Aids pode levar ao fracasso do tratamento.
Essa foi uma das advertências feitas ontem no congresso de Birmingham por Douglas Richman, da Universidade de San Diego, na Califórnia (EUA).
O uso de doses baixas dos inibidores da protease, mesmo por tempo limitado, pode levar ao aparecimento de formas resistentes do vírus. O aumento das doses para níveis efetivos não é capaz de reverter essa resistência.
Os inibidores de protease são uma das três drogas que fazem parte do coquetel. Sua função é impedir o amadurecimento final do vírus HIV, que invade as células de defesa do organismo para se reproduzir. Quando os vírus amadurecem, eles implodem a célula de defesa, as destroem e voltam para a corrente sanguínea.
Outros trabalhos apresentados ontem também mostram que, se um paciente desenvolve resistência a um dos inibidores de protease, é muito provável que ele não obtenha benefícios com nenhuma outra droga desse tipo (ocorre resistência cruzada).
Essas conclusões indicam que a distribuição dessas drogas não pode ser interrompida.
O governo brasileiro, que está começando a distribuir o coquetel este ano, teria -segundo esses estudos- que manter uma política de fornecimento contínuo das drogas. Caso contrário, os pacientes poderiam ser prejudicados.
Marília Santini de Oliveira, da Casa da Aids, do HC, afirma que, se não houver quantidade suficiente de medicamento, é melhor interromper o tratamento por um período limitado de tempo e depois voltar com carga total.
Os médicos brasileiros também concordam com os resultados dos estudos sobre a taxa de ineficácia do coquetel tríplice. Olavo Leite, infectologista do Hospital das Clínicas da USP, observa que, em pacientes mais graves, a taxa de falha do coquetel pode ultrapassar 20%.
Segundo Leite, além da potencial resistência aos medicamentos, esses doentes toleram menos a toxicidade dos remédios, absorvem menos as drogas e podem estar em um estágio da doença em que o coquetel não reverte a situação.
(JB e LM)

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