São Paulo, sexta-feira, 8 de novembro de 1996
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Uma cidade para todos

LUIZ CAVERSAN

Rio de Janeiro - O professor Benedito Lima de Toledo, especialista em história da arquitetura brasileira, tem uma tese tão simples quanto eficiente: a melhor maneira de preservar um monumento de valor arquitetônico é usando-o.
Não adianta, por exemplo, tentar "proteger" uma construção secular isolando-a e evitando que as pessoas a usem; ela acabará se deteriorando, ruindo, perdendo o valor.
A ocupação, portanto, é a melhor solução.
Lembro do ensinamento de Toledo ao ouvir as propostas apresentadas em debate recente pelos dois candidatos a prefeito do Rio para o problema da violência.
Ambos -Luiz Paulo Conde (PFL) e Sérgio Cabral Filho (PSDB)- dissimuladamente mantiveram o problema inteiramente nas alçada do governo estadual e restringiram-se à questão policial: mais recursos para a polícia, mais homens, mais ação repressora. Só.
Assim como a velha casa que se deteriora e rui, as favelas e os bairros miseráveis do Rio foram e estão abandonados. As iniciativas de integrá-los à cidade sempre foram pífias, ineficientes, eleitoreiras.
Há anos prevalece no Rio a ausência do Estado como provedor da cidadania nos cantões de pobreza. E germina a marginalidade.
A violência e a criminalidade, nesses casos, são fruto do abandono e da falta da autoridade no seu sentido mais amplo e democrático.
Parece óbvio, mas vale repetir: onde não há água, luz, esgoto, médico, professor, áreas de lazer e creche prolifera o poder paralelo do criminoso, no caso do Rio, do traficante.
Isso ocorre na maioria das 400 favelas cariocas.
E se o futuro prefeito encarar o problema apenas como uma questão policial, tudo ficará como está.
E dê-lhe balas perdidas.

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