São Paulo, domingo, 10 de novembro de 1996
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Modelo para o Bamerindus

CELSO PINTO

A novela do Bamerindus pode não estar, afinal, nos seus capítulos finais. Existem definições importantes pela frente, e a solução poderá exigir não dias, mas semanas.
O modelo que está sendo discutido entre o Bamerindus, o Banco Central e alguns bancos privados prevê a contratação de dois consultores privados para ajudar a decidir o futuro do banco. Um deles seria o consultor de gestão, o outro, o consultor corporativo.
O consultor de gestão teria a função de dar uma virada no banco, ajustando seu tamanho e sua administração a um formato mais lucrativo. O objetivo do consultor corporativo seria definir o modelo adequado para a venda futura do Bamerindus.
No caso do consultor corporativo, é fácil delimitar sua área de responsabilidade. Se o banco vier a fracassar por má gestão, a culpa não é sua. Seria, teoricamente, do consultor de gestão, mas há uma óbvia relutância dos poucos candidatos que já apareceram para essa função em aceitar a responsabilidade integral sobre os resultados da administração, inclusive com seus bens.
O Banco Icatu está brigando apenas por uma das consultorias, segundo Pedro Bodin, seu principal executivo: quer ser o consultor corporativo. A razão, segundo Bodin, é que a área de "expertise" do Icatu, claramente, é assessoria corporativa, não administração de banco comercial.
Como candidato a consultor de gestão existe um grupo de executivos com experiência no setor bancário que está na parada, desde que a questão da responsabilidade legal seja superada.
Não foi encontrada, até agora, uma fórmula jurídica adequada. Se não se chegar a algo palatável, é possível que o BC acabe recorrendo ao Regime de Administração Especial Temporária (Raet), o mesmo do Banerj e do Banespa, no qual existe a transferência da propriedade para as mãos do BC.
No modelo sem Raet, a Fundação Bamerindus, que detém o controle do banco, faria um contrato com o BC que envolveria a contratação dos dois consultores e a transferência das ações para outro banco, que funcionaria como fiel depositário, "trustee". Esse banco seria, provavelmente, o Hongkong and Shanghai Banking Corp. (HSBC), que já possui 6% do capital votante do Bamerindus.
A idéia é que, feita a reestruturação e definido o modelo de venda, o "trustee" colocaria o controle do Bamerindus à venda. O consultor corporativo já teria, naturalmente, garimpado um número mínimo de interessados. Bodin acha que podem haver interessados tanto aqui quanto no mercado internacional para um Bamerindus reestruturado.
Em qualquer hipótese, o BC daria uma linha do Proer, o programa de ajuda aos bancos, a quem ficasse responsável pela gestão. Não só para fechar o buraco de liquidez que existe hoje, mas também para dar margem de manobra ao novo administrador.
Do ponto de vista do acionista controlador, o senador José Eduardo de Andrade Vieira, tanto um modelo com Raet como sem Raet deverão ter implicações semelhantes. Como haveria dinheiro do Proer envolvido, os bens dos controladores deverão entrar como garantia.
Não são triviais as dúvidas envolvidas na operação. Que tipo de gestor seria ideal para recuperar a credibilidade e atrair um bom consultor corporativo?
Ter uma instituição financeira como gestora cria conflitos de interesse delicados e difíceis de contornar. Até hoje muita gente critica o fato de o Banerj ter sido entregue à administração de um banco de investimento privado, o Bozzano, Simonsen.
Encontrar um grupo de administradores disposto a largar bons empregos para arriscar-se no Bamerindus não é simples. Mesmo que, se seu trabalho for bem-sucedido, possivelmente um futuro comprador teria interesse em preservá-lo.
Seria preciso definir com clareza, também, quem teria responsabilidade pelo que durante a fase em que o controle do banco sairia da Fundação Bamerindus para a guarda do "trustee" e a administração seria de um gestor privado, tudo sob o guarda-chuva do BC. E saber o que fazer se, depois de tudo isso, ninguém quiser comprar o banco.

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