São Paulo, domingo, 10 de novembro de 1996
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Eleições nos EUA

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

Nas cidades-Estado da Grécia clássica, a política e as virtudes cívicas eram tidas como fundamentos da vida civilizada. A política, considerada como "arte adquirida", era ensinada aos jovens pois se tratava de um conhecimento necessário. Nenhum Estado civilizado poderia ser forte se baseado na ignorância.
Nos dias de hoje, as eleições tornaram-se processos marcados pelas técnicas de marketing nos quais certos assuntos políticos mais profundos ficam em segundo plano. Mas, do lado positivo, os meios de comunicação modernos levam a informação para um número muito maior de pessoas. A solução seria que as sociedades dessem maior atenção para a educação política dos seus futuros cidadãos.
A recente eleição dos EUA, assim como as eleições municipais no Brasil, tiveram muito mais de show do que debate político elevado. Mas seria errado concluir que os eleitores são alienados. O eleitor moderno, embora influenciado pela propaganda, ainda mantém um grau razoável de racionalidade e revela suas preferências pelo voto.
Há dois anos, quando os democratas foram derrotados na renovação do Congresso, comentei neste espaço que "o voto foi de descontentamento com o governo". Nessas eleições Clinton reinventou-se com vigor e inteligência. Por certo, o fato de que a economia americana passe por uma fase de prosperidade ajudou, mas há outros fatores.
Duas qualidades do presidente são importantes: a primeira é empatizar com os mais pobres; ele próprio vem da classe média. E, segundo, foi ter ocupado o "centro vital". Clinton foi eleito para ser presidente nesta época em que a globalização traz muitas incertezas e o radicalismo exaltado assusta. O eleitor deixou claro que deseja uma máquina governamental mais enxuta, mas sem jogar o custo disso nos mais fracos.
A reeleição de Clinton e a maioria centrista no Congresso são uma combinação que favorece a manutenção do crescimento econômico com a inflação baixa. Nesta semana mesmo a rentabilidade dos bônus de 30 anos começou a cair. Com isso a Bolsa de Nova York subiu e o dólar caiu ligeiramente (pois as taxas de juros tendem a cair).
A repercussão sobre o Brasil é favorável: iremos ter mais alguns anos de estabilidade na economia mundial e taxas de juros internacionais relativamente baixas.

Álvaro Antônio Zini Júnior, 43, é professor titular de Economia Internacional da Faculdade de Economia e Administração da USP. Atualmente é professor visitante junto à Universidade de Roma.

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