São Paulo, domingo, 10 de novembro de 1996
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ACC fica US$ 7 bi à frente da exportação

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

O diferencial acumulado entre câmbio contratado e exportação física, desde 93, superou US$ 7 bilhões há dois meses, numa escala ascendente com início em 95.
Ao final do primeiro trimestre de 95 o diferencial era inferior a US$ 1 bilhão. Seis meses depois já chegava a US$ 4,4 bilhões (ver gráfico).
É por isso que, na visão dos bancos, as operações de ACC (Adiantamento de Contrato de Câmbio) chegaram a um limite, o que explica a queda a partir de outubro.
O adiantamento de contratos de câmbio para exportação chegou a tal ritmo que, no início de setembro passado, o Banco Central foi obrigado a baixar a resolução 2.312, permitindo que os bancos captassem dinheiro no exterior para repasse a empresas exportadoras que não estavam conseguindo liquidar seus ACCs por falta de mercadoria para embarcar. Quem não embarca paga multa, IOF e outros encargos.
"Foi um socorro para a pré-inadimplência. Jogou-se o problema para a frente, por mais 180 dias", explica Sidnei Nehme, da NGO Corretora de Câmbio.
Pela resolução do BC, o exportador pode receber até 200% do volume de contratos de câmbio até 31/07/96 e não liquidados com o embarque do produto.
Há uma tese de que as operações de ACCs estariam encolhendo porque o financiamento ao exportador seria deslocado para os empréstimos pela resolução 2.312.
Pelo menos três bancos consultados pela Folha não confirmam essa migração, mesmo porque a nova alternativa de crédito tem custo mais elevado do que o ACC, algo entre 9% e 12% ao ano, contra de 7% a 8% no ACC.
O diretor de um banco de atacado estima em US$ 300 milhões as operações já contratadas pela 2.312. O problema, relata, foi localizado em poucas empresas.
Nehme explica que a 2.312 serviu apenas para acomodar a situação de pré-inadimplência. Banqueiro que vê seu cliente com dificuldade para cumprir um compromisso (ACC) não vai liberar o dobro do crédito que não seria pago, afirma.
Falta de produto
Nehme lembra também que foram intensas, devido à falta de produtos para embarcar, as operações de "compra de performance".
Um exportador de soja, por exemplo, que está com seu ACC vencendo e não tem mercadoria para embarcar, "compra" a exportação de produtos químicos de uma outra empresa e "cumpre performance".
Agora, falta produto até no mercado de "performance", que também foi esfriado pela isenção de ICMS dada a vários produtos de exportação, principalmente commodities agrícolas.
No mercado de câmbio, comenta-se que muitas empresas não conseguiram liquidar ACCs porque o consumo interno cresceu, uma explicação plausível, na avaliação de Michel Alaby, vice-presidente executivo da Adebim (Associação de Empresas Brasileiras para a Integração do Mercosul).
Entressafra
Outro motivo apontado por Nehme e por executivos de bancos de atacado para a retração dos adiantamentos de câmbio para exportação é a época do ano.
A safra agrícola de exportação já foi embarcada e a próxima, em fase de plantio, entrará no mercado em março de 97, concorda Alaby.
"O momento é mesmo de marasmo", confirma Ricardo Pelucio, presidente da Contibrasil e vice da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais, para quem a queda dos juros internos também pode estar colaborando para o menor número de antecipações no fechamento de câmbio.
Carlo Barbieri, presidente da Associação Brasileira das Empresas Comerciais Exportadoras, acrescenta que as empresas não estão mais assumindo o risco de fazer ACC e depois não poderem cumprir o compromisso. Primeiro confirmam que terão a mercadoria e depois fazem o ACC, diz ele.
Para Nehme, os próprios bancos estão mais cautelosos. E há ainda certa desconfiança quanto ao volume da nova safra agrícola.

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