São Paulo, domingo, 10 de novembro de 1996
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Ajuste cambial não é esperado

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

O governo está consciente de que o real se valorizou em demasia no início do plano, mas descarta abandonar a política de desvalorizações lentas porque as consequências de um ajuste mais forte seriam imprevisíveis.
Essa a avaliação do mercado financeiro e de exportação sobre o gerenciamento do Plano Real.
A inflação está baixa, mas a economia não está definitivamente estabilizada. "A mentalidade da indexação ainda está aí", afirma, por exemplo, Michel Alaby.
Um ajuste maior do câmbio também teria impacto sobre a dívida externa, pública e privada.
A estratégia do governo tem sido cobrir os déficits da balança comercial -que se somam aos tradicionais e mais pesados na conta de serviços, basicamente juros- com a entrada de capitais. Para isso, acaba de reduzir o IOF.
O ritmo das exportações não é o ideal, admite o próprio governo. Mas a expectativa é de reação.
São citadas, como medidas nesse sentido, a isenção do ICMS e do PIS-Pasep, essa última ainda emperrada, segundo exportadores, na burocracia da Receita Federal.
A reformulação de programas de financiamento às exportações -o governo busca fórmulas também para financiar, no exterior, o importador de produto brasileiro-, a modernização dos portos e a criação de mais "portos secos" (no interior do país) também estão incluídas no esforço exportador.
Outro argumento é que em 96 importaram-se mais bens de capital. O segundo momento seria mais produção e competitividade.
Para Ricardo Pelucio, presidente da Contibrasil e vice-presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais, as perspectivas de exportação de commodities agrícolas para 97 "são excelentes" com a isenção do ICMS. "Não vamos mais exportar imposto", diz.
A avaliação das tradings, afirma Carlo Barbieri, é que as exportações vão reagir em 97.
Ele concorda com a tese de que os ganhos internos de produtividade contrabalançam a valorização do real diante do dólar.
"Não tem sentido repassar alta de aluguel para dólar. A desvalorização cambial em cima da inflação também encobria problemas estruturais da exportação, como a questão dos portos", diz.
"A exportação poderia estar melhor, mas cresceu após o real", afirma Alaby. Os déficits na balança, acrescenta, estão mais relacionados ao salto das importações.
O problema da estratégia do governo, entretanto, é enfrentar os percalços da transição.
(GJC)

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