São Paulo, domingo, 10 de novembro de 1996
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Medula espinhal é regenerada em ratos

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando alguém sofre lesão (corte, esmagamento) na coluna vertebral, as mesmas lesões aparecem na medula espinhal, que fica dentro dela. A consequência imediata é a paralisia dos membros inferiores (paraplegia).
Há uns 30 anos especialistas procuram meios de superar a paralisia, restabelecendo os movimentos, sem resultados.
A medula espinhal é constituída por duas substâncias paralelas, a branca e a cinzenta, a qual fica por dentro. Na substância branca passam fibras nervosas revestidas de matéria gordurosa e isolante -a mielina. Essas fibras são incapazes de regeneração quando cortadas. Os nervos da substância cinzenta, ao contrário, são passíveis de regeneração e não têm mielina.
Na última semana de julho passado cientistas chefiados por Henrich Cheng, do Instituto Karolinska (Suécia), publicaram na revista "Science" os resultados de pesquisas em que conseguiram corrigir os efeitos do corte da coluna vertebral em ratos, que voltaram a andar.
Os especialistas cortaram a coluna vertebral de 23 ratos e conseguiram construir pontes feitas de fibras nervosas dos músculos do peito entre as duas metades da medula espinhal. Começaram alargando a lesão da coluna para evitar a presença de qualquer resto de substância branca, o que poderia causar falsos resultados positivos.
Usando as fibras colhidas nos músculos do peito, Cheng cuidadosamente uniu as fibras brancas de um lado com as cinzentas do lado oposto. Tudo isso foi feito com alta precisão por meio da microcirurgia. Desse modo, os nervos da matéria cinzenta puderam crescer para a branca e restabelecer o contato.
Não muito depois da operação os ratos operados começaram a mexer com as patas, depois lograram arrastar-se e, finalmente, andar.
Foi uma grande conquista, mas só devemos esperar para daqui a anos resultados semelhantes em seres humanos. Duas peculiaridades dificultam esse objetivo. A mais importante é, nas lesões acidentalmente provocadas em humanos, dominar o esmagamento, que torna as coisas mais complicadas do que os cortes nítidos. Seja lá como for, de máxima significação é notar que a regeneração das lesões nervosas é de um modo geral possível. Além disso é preciso notar que rato é rato e homem é homem.

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