São Paulo, domingo, 10 de novembro de 1996
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Rebeldes zairenses saqueiam Goma

Presidente é alvo de revolta

MARY BRAID
DO "THE INDEPENDENT", EM GOMA

À sombra dos vulcões antigos que dominam o horizonte de Goma, na fronteira zairense com Ruanda, o uniforme do soldado zairense parecia especialmente maltrapilho. Mas seus olhos brilhavam de convicção. "O presidente Mobutu não fez nada por este país", disse.
"O Zaire é rico, mas nosso povo é pobre, e Mobutu (Sese Seko, presidente do país) não fez nada por nosso desenvolvimento", diz.
Na rua principal da cidade, os libertados completavam o saque das lojas e dos escritórios das organizações humanitárias internacionais. Os prédios começaram a ser pilhados na semana passada, quando as tropas zairenses foram expulsas da cidade. Goma foi a terceira cidade importante no leste do Zaire a cair diante da recém-formada rebelde Aliança de Forças Democráticas pela Libertação do Congo-Zaire.
O desastre humanitário no Zaire é a mais recente etapa do pesadelo que começou em 1994, com o genocídio da população tutsi de Ruanda, minoritária, pelos hutus, majoritários. Quando os tutsis venceram a guerra civil, 2 milhões de hutus fugiram do país. Em três meses sombrios, haviam massacrado 800 mil tutsis. Compreensivelmente, temiam represálias.
O governo zairense semeou descontentamento ao negar cidadania zairense a hutus e tutsis em 1981, mas foram as milícias hutus dos campos de refugiados que incentivaram políticos locais a ordenar que os tutsis locais abandonassem o país, sob pena de serem mortos.
Mas a insurreição zairense dificilmente vai se acalmar se os refugiados voltaram a Ruanda. Os rebeldes afirmam que vão tomar a capital do Zaire, Kinshasa, embora talvez tenham de construir uma estrada para chegar até lá, já que, depois de 30 anos com o presidente Mobutu Sese Seko no governo, o país está devastado, as estradas, recobertas de mato e as comunicações, quase inexistentes.

Tradução de Clara Allain

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