São Paulo, domingo, 10 de novembro de 1996
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Jatene, a saúde e o déficit

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Adib Jatene, o ex-ministro da Saúde, não dá um sinal sequer de mágoa com o governo que acaba de deixar, depois de quase dois anos.
Chega a preferir a palavra "impossibilidade" quando lhe pergunto se a área econômica do governo mostrou "insensibilidade" social ao negar-lhe a verba que pedia, o que acabou sendo a gota d'água para sua demissão.
Mas, de todo modo, apresenta a sua saída como um conflito de visões políticas que é bastante importante. Ele achava preferível "um pequeno aumento do déficit público do que colocar em risco todo o sistema de atendimento à população de baixa renda".
A equipe econômica fez a escolha inversa.
Não tenho condições de avaliar se a queixa de Jatene corresponde ou não aos fatos.
Mas parece claro que não apenas a equipe econômica, mas todo o governo Fernando Henrique Cardoso passa a sensação de que inverteu ou, ao menos, minimizou as prioridades com que se elegeu e que, de resto, foram reiteradas com nitidez no discurso de posse.
A limpeza social do país foi ultrapassada, na agenda do governo, pela preocupação com a limpeza das contas públicas. Não que esta não seja importante, como é óbvio.
Mas há aí dois tipos de risco:
1 - nem se acertam as contas públicas nem se dá à área social a ênfase que ela merece. Parece a situação atual.
2 - Retira-se o social do lugar privilegiado que deveria ter na agenda.
É claro que ninguém espera que o governo resolva as mazelas sociais de uma hora para a outra nem mesmo em seus quatro (ou oito) anos de gestão.
O importante no caso é o presidente martelar tanto o tema que se torne vergonhoso para o conjunto do governo e até para o público não dar um jeito ou ao menos um passo à frente.
Se a visão de Jatene é correta, o que se deu foi um passo atrás.

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