São Paulo, domingo, 10 de novembro de 1996
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As reservas voláteis e a produção nacional

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Os últimos meses foram marcados por avanços apreciáveis na redução do chamado "custo Brasil". Nesse sentido, tivemos a desoneração de ICMS sobre as exportações, a redução de algumas tarifas portuárias, a diminuição dos encargos sociais para os produtores rurais e, nesta semana, um alívio tributário para as micro e pequenas empresas.
Mas a caminhada ainda é muito longa para que o Brasil atinja o nível de leveza administrativa e tributária que a competição exige. A precariedade das rodovias encarece tudo; as ferrovias estão sucateadas; os trabalhadores custam mais em encargos do que em salários; os tributos em cascata oneram a produção e o consumo; os juros exagerados e as burocracias inchadas inibem os investimentos.
Apesar de tudo isso, o Brasil receberá este ano cerca de US$ 7,5 bilhões de recursos destinados a investimentos diretos -o dobro do ano passado. No que tange aos capitais norte-americanos, fomos superados apenas por países muito desenvolvidos tais como Inglaterra, Suécia, Holanda, França e Austrália e estamos muito na frente do México, Cingapura, Argentina, Taiwan, Malásia, Hong Kong, Tailândia, Venezuela e Coréia.
É animador saber que só o Departamento de Comércio dos Estados Unidos recebe 120 pedidos de informações por mês a respeito das possibilidades de investimentos produtivos no Brasil. Para 1997, espera-se um montante superior a US$ 10 bilhões ("Gazeta Mercantil", 6/11/96).
Tudo isso deveria significar mais empregos, renda e tributos. Mas não é bem assim. Continua enorme o montante de capital externo que aqui vive da especulação e dos juros mais altos do mundo. A sua volatilidade é preocupante. Do dia para a noite eles podem ser repatriados, abandonando-nos no meio de uma crise cambial grave e já vivida por outros países da América Latina.
Voltando ao campo do capital produtivo, cerca de 49% dos investimentos externos foram usados para comprar empresas já existentes nos ramos de energia elétrica (28%), comércio (8%), bancos (7%), fumo (6%). O restante se diluiu em outros setores, sendo que uma pequena parcela (cerca de 20%) foi usada para a montagem de novas empresas.
Essa aplicação concentrada em empresas preexistentes nada tem de mal. É lamentável registrar, porém, que muitas dessas vendas decorreram de uma inviabilidade criada pelo próprio governo. A sobrevalorização do câmbio, os juros altíssimos e o enorme remanescente do "custo Brasil" conspiraram contra muitas empresas que podiam se modernizar, competir e sobreviver.
Está na hora de globalizarmos as condições para competir e inaugurar uma política capaz de reorientar parcelas de capital especulativo para o setor produtivo, facilitando ainda a entrada de capitais dispostos a criar novas empresas, e de introduzir no Brasil conhecimentos, tecnologias e métodos mais eficientes.
Considerando-se a referida atração, o Brasil tem tudo para captar capitais da maneira que mais lhe convém. Para tanto, será essencial sair de uma atitude passiva e entrar numa atitude persistentemente ativa na busca de capitais destinados à produção nacional.

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