São Paulo, segunda-feira, 11 de novembro de 1996
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Kohl ameaça renunciar para manter imposto

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O chanceler da Alemanha, Helmut Kohl, ameaçou renunciar depois de mais de 14 anos no poder se um dos partidos da coalizão que o sustenta não aceitar a carga de impostos considerada por ele necessária para garantir um déficit menor no Orçamento de 1997.
As críticas do Partido Democrático Livre (FDP) à manutenção de impostos cujo corte já estava previsto levou Kohl a atacar o partido, que forma coalizão com a sua União Democrata Cristã (CDU).
Jürgen Mõllemann, líder do FDP no Estado da Renânia do Norte-Vestfália, respondeu que o chanceler alemão "deveria manter as suas patas longe do partido".
O FDP, cujo apoio é vital para a manutenção do governo de Kohl, exige que seja reduzido o "imposto da solidariedade", criado para a reconstrução da ex-Alemanha Oriental. Segundo o previsto inicialmente, o imposto deveria ser reduzido de 7,5% da renda para 6,5% em 1997 e 5,5% em 1998.
O FDP já aceitou que o Orçamento de 1997 mantenha o valor de 7,5% para o imposto, mas quer que uma lei garanta a redução dele para 5,5% em 1998. A CDU se recusa a aceitar a medida.
Para se manter conhecido como "o partido pró-corte de impostos" junto ao eleitorado, o FDP pode deixar o governo e ir para a oposição, forçando a queda de Kohl.
Ameaças
As ameaças de renunciar de Kohl são raras. A última delas ocorreu em 1988, em uma disputa similar por causa de impostos.
"Se continuar assim, eu vou ter de ir a Roman Herzog", disse Kohl aos membros de seu gabinete, sobre a possibilidade de apresentar sua renúncia ao presidente, segundo a revista "Focus".
O governo da Alemanha não quer reduzir os impostos para garantir que o Orçamento de 1997 tenha um déficit de até 3% do PIB. A mesma idéia vale para os Orçamentos dos anos subsequentes.
Um déficit menor do que 3% do PIB é uma exigência do Tratado de Maastricht para que os países possam adotar a moeda única da União Européia, o euro.
Outros países também estão fazendo cortes orçamentários.
Adiamento
A Alemanha é a principal economia da União Européia, e o seu fracasso em reduzir o déficit orçamentário levaria a um adiamento da implantação do euro, inicialmente prevista para 1999.
Segundo previsões dos seis principais institutos econômicos alemães, o país deve ter um déficit orçamentário de 3,5% em 1997.
O ministro das Finanças, Theo Waigel, acredita que o crescimento do país deva impedir que o déficit atinja o índice de mais de 3%, mas prefere se garantir mantendo a alta carga de impostos do país.
Para conseguir um déficit desse porte, o governo do chanceler Helmut Kohl, que recentemente quebrou o recorde de longevidade no poder na Alemanha neste século, lançou também uma série de cortes nos gastos públicos e benefícios de segurança social.
Manifestações
A governo pretende economizar o equivalente a US$ 33 bilhões com os cortes, que causaram protestos dos sindicatos e passeatas que reuniram mais de 200 mil pessoas.
Na maior delas, em junho deste ano em Bonn, 350 mil pessoas pediram a queda do chanceler e o fim da política de cortes. Foi o maior protesto na cidade desde 1982.
Além disso, greves organizadas por sindicatos nas últimas semanas já conseguiram forçar o governo e os empregadores a voltar atrás sobre os cortes no pagamento da segurança social a doentes.

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