São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 1996
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Malan descarta frear economia e diz que balança não preocupa

Ministro afirma que inflação deve ser de até 10% em 97

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro Pedro Malan (Fazenda) chamou de "ignorante, desinformado, movido por má fé ou por propósitos políticos" quem insiste em dizer que o controle da inflação é o único objetivo do governo.
A declaração foi feita durante a conferência "O futuro dos negócios nas Américas", promovida pela Câmara Americana de Comércio-SP, ontem, em São Paulo.
Malan descartou medidas de restrição ao consumo para frear a economia, apesar da taxa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) ter atingido 7% no terceiro trimestre deste ano, em comparação com igual período do ano passado.
Malan dividiu sua palestra em cinco temas: inflação, crescimento, balanço de pagamentos, situação fiscal e problemas sociais:
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Inflação -
A média dos quatro índices de preços mais utilizados pelo mercado nos primeiros dez meses desse ano foi da ordem de 8,6%.
Todas as projeções indicam que terminaremos o ano de 96 com uma inflação na média da ordem de 10%. Para o ano que vem, a estimativa da maioria dos analistas é de uma taxa de inflação entre 7% e 10%, ou uma média de 8%.
Não vamos abrir mão do objetivo de manter a inflação sob controle porque isso beneficia a esmagadora maioria da população brasileira. A cesta básica do trabalhador brasileiro, na última quinta-feira, custava R$ 109,00. Em 1º de julho de 1994, R$ 106,95. Em dois anos, quatro meses e quatorze dias a cesta básica aumentou menos de 2%.
Crescimento -
A economia brasileira cresceu 4,2% em 1993, 5,8% em 1994 e 4,2% em 95, o que dá uma média de 4,7% em termos reais no triênio 1993-95. Este ano vai crescer em torno de 3%. Não houve recessão.
m 1997, a taxa de crescimento ficará entre 4% e 5%.
Estamos criando as condições para que possamos crescer a taxas mais altas no futuro de maneira sustentada e não em bolhas de crescimento.
Balanço de pagamentos -
O déficit comercial recorde de US$ 1,3 bilhão em outubro não preocupa nem significa o colapso do Plano Real.
A abertura comercial é irreversível porque permitiu o crescimento do comércio exterior do Brasil. Há cinco anos, o fluxo de comércio era inferior a US$ 50 bilhões. Este ano passará pela primeira vez da marca de US$ 100 bilhões e queremos continuar expandindo tanto exportações quanto importações.
As exportações vão crescer em resposta ao conjunto de medidas de incentivo, entre elas a desoneração do ICMS de produtos semimanufaturados e agrícolas, o seguro de crédito e o novo sistema de financiamento do BNDES.
O déficit em conta corrente de 3% do PIB não preocupa porque está sendo financiado por investimentos diretos e por captações de recursos a longo prazo. De janeiro a 20 de outubro, os investimentos chegaram a US$ 6,6 bilhões.
Situação fiscal -
Esse é o grande desafio para a consolidação do controle da inflação e criação das condições de crescimento sustentado.
Não precisamos de alertas vindos do exterior ou de dentro do Brasil porque estamos dizendo isso há três anos e meio.
As batalhas fundamentais da consolidação são a modernização do setor público, a reforma da administração pública, a maior eficiência do gasto público, a maior eficiência do aparelho arrecadador, a continuidade da privatização.
Área social -
O grande desafio deste e de qualquer governo é a melhoria continuada das condições de vida da maioria da população brasileira.
Lidamos com um legado de décadas que explicam nossa desigualdade de renda e problemas como fome, miséria, pobreza, opressão, injustiça e violência.
Quem disser que pode resolver esses problemas em dois a três anos está, na verdade, fazendo um ato de charlatanismo político.
O que não quer dizer que não se possa fazer algo a respeito disso desde já com sentido de direção.
A inflação baixa e o crescimento sustentado vão permitir que ao longo do tempo consigamos ir melhorando as condições de vida da população brasileira.

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