São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 1996
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PRAZOS PARA AGIR

O mercado financeiro acaba de passar por nova onda de turbulência, motivada pela angústia com a evolução das contas externas brasileiras.
Fatores de curto prazo ajudam a entender por que a turbulência passou. O governo colocou títulos públicos com cláusula de correção cambial que vencerão em abril (demonstração de que confia na continuidade da atual política), os juros nos EUA ficaram estáveis (assim decidiu o Fed, banco central dos EUA, na semana passada), em novembro há um número menor de contratos financeiros de importação (a indústria comprou praticamente tudo de que precisava para atender à demanda de Natal).
Não foi a primeira "bolha" de ansiedade cambial desde o lançamento do real e certamente não será também a última. Coloca-se então a pergunta: quando estarão os agentes econômicos dispostos a encarar a política de câmbio não como um instrumento de curto prazo, mas como um dado estrutural? Dois anos e meio depois do plano de estabilização, aos poucos tornam-se claras, mesmo que não se considere absolutamente imutável a política cambial, as inúmeras consequências reais da opção pela "âncora cambial".
A indústria brasileira está sob uma pressão competitiva sem precedentes. Praticamente não há setor econômico em que a racionalização de custos e a busca de qualidade e preço aceitáveis não ocorram. A estabilidade aos poucos impõe parâmetros novos aos setores produtivos que estão mudando a face da economia e da sociedade brasileira.
Falta, ainda, o governo fazer a sua parte para que os ganhos dessa cultura não-inflacionária tornem-se, no jargão dos economistas, consistentes "intertemporalmente". Quanto maior a demora do governo para ajustar-se a essa nova realidade, mais arriscada será a recorrência cumulativa das bolhas de ansiedade.
Vistas como fenômenos de curto prazo, cada turbulência não passa de um soluço. Se o ajuste fiscal, a reforma do Estado e a privatização tardarem, elas poderão converter-se em agourentas premonições.

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