São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 1996
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Itamar demitiria Itamar

JOSIAS DE SOUZA

São Paulo - Muito se discute sobre o destino do presidente da República. Deve-se permitir que se reeleja? Ou o melhor é negar-lhe o direito a um segundo mandato? Em Brasília, não se fala em outra coisa.
Pois já que se está com a mão na massa, convém encorpar a discussão. Há um tema correlato. Um assunto que convida-nos à reflexão: o que fazer com os ex-presidentes?
Note-se a movimentação de Itamar Franco. Como embaixador junto à OEA, não é senão um funcionário público. E, como tal, subordinado ao presidente. Não obstante, fala e age como oposicionista.
A situação roça o absurdo. Itamar é servidor de um governo que ontem comandava. Mais: deve obediência a um ex-subordinado. Para piorar, não o respeita como deveria.
Itamar tinha diante de si a perspectiva de um recolhimento digno. Desceu a rampa do Planalto prestigiado. Mas preferiu tornar-se conspirador.
Em seus diálogos mais íntimos, distribui estocadas no governo. Diz, por exemplo, que Brasília salva bancos, mas é incapaz de estender a mão aos pobres. No final de semana, assinou manifesto contra a venda da Vale do Rio Doce.
O presidente Itamar Franco jamais toleraria um embaixador como Itamar Franco. Já o teria demitido há tempos. Por muito menos, aliás, deu vários chiliques.
Em um de seus faniquitos, ameaçou livrar-se do ministro da Fazenda por conta de um aumento da gasolina. Em outro, investiu contra embaixadores. Acusou-os de não defenderem convenientemente o Brasil no exterior.
Que Itamar tenha opiniões próprias, vá lá. Que tais opiniões destoem das de Fernando Henrique, tudo bem. O que não se admite é que saia por aí a assinar manifestos. Antes, deveria pedir demissão. Seria mais honroso.
Talvez devêssemos fazer como os italianos, que reservam uma cadeira vitalícia no Senado para seus ex-presidentes. Ao menos não teríamos de assistir a esse desfile de ressentimento e ciúmes em via pública.

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