São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 1996
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Romeos y Julietas

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - O generalíssimo Franco, que governou a Espanha durante décadas, deve ser acusado de tudo, menos de simpatizante do comunismo. O papa João Paulo 2º também costuma ser acusado de muitas coisas, mas nenhum idiota chegou ao ponto de considerá-lo admirador do comunismo.
Como ditador da Espanha, Franco não boicotou o regime cubano que ele desprezava. A Iberia, companhia aérea estatal, mantinha um vôo quase simbólico para a ilha que era considerada a ovelha negra da paz mundial. Os charutos cubanos eram vendidos livremente -eu próprio, sempre que podia, fazia uma escala em Madri para me abastecer dos "puros" que eram proibidos no Brasil e continuam proibidos nos Estados Unidos.
As razões de Franco eram históricas. Como pátria-mãe, a Espanha não podia tolerar o boicote econômico para uma de suas antigas colônias. Era ao mesmo tempo um sentimento e um cálculo.
Hoje, na Espanha, vendem-se charutos da Jamaica, Honduras, Costa Rica. A Lei Helms-Burton proíbe o intercâmbio com Cuba.
O papa já se manifestou contra essa lei. Está disposto a receber Fidel Castro -e o papa tem experiência pessoal em tratar com dirigentes comunistas. Mas não pode aceitar uma punição cruenta como essa que os Estados Unidos estão impondo e obrigando os países do chamado "mundo livre" a adotar.
O papa não está sozinho nessa luta. A Comunidade Européia, a Organização Mundial de Comércio, o Canadá e praticamente toda a América Latina estão contra a lei Helms-Burton -a primeira lei globalizada que não respeita fronteiras nem interesses nacionais para impor a predominância de um mercado-líder.
Ser comunista ou anticomunista é uma coisa. Praticar uma violência econômica contra o mais fraco é uma truculência fascista. É uma guerra não declarada que inaugura o império da "pax" americana. Não pode ser levada a sério uma paz que tem medo dos montecristos e dos romeos y julietas.

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