São Paulo, quarta-feira, 20 de novembro de 1996
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David Morales liga o 'difícil ao acessível'

CAMILO ROCHA
ESPECIAL PARA A FOLHA

David Morales, um dos maiores DJs e produtores de dance do mundo, tocará esta sexta em São Paulo. A festa será no Galpão Fábrica e faz parte do projeto Kaiser Summer Time. Sábado, Morales toca no Rio, na Fundição Progresso. O DJ carioca Felipe Venâncio abre as duas noites.
Morales, 31, começou sua carreira em Nova York, em meados dos anos 80. Era a época que nascia a house em Chicago, rapidamente adotada por uma geração emergente de DJs nova-iorquinos. Morales é da primeira leva de DJs do gênero, junto com Todd Terry, Robert Clivillés e David Cole.
Em poucos anos, Morales foi arremessado das lendárias noites no clube underground Red Zone para a posição de DJ global e remixador de megaestrelas como Mariah Carey e Madonna. Mas apesar da projeção, dos altos ganhos e do status que o leva a tocar por toda parte, Morales garante que não perdeu o contato com o underground.
Falando pelo telefone à Folha, de Florença (Itália), onde tocou sábado passado, Morales defendeu o underground. "Ainda frequento semanalmente lojas especializadas a procura de discos obscuros."
O público paulistano pode esperar de Morales vários desses discos obscuros, mas com doses generosas de house e garage mais acessíveis, com muitas divas se esgoelando. "Faço meio a meio, alguns vocais e alguns instrumentais. Nada de tecno, nada de jungle. Não toco coisas pesadas ou rápidas. Nunca passo dos 125 BPMs." (tecno e jungle geralmente ficam acima das 140 batidas por minuto).
Assim como sua discotecagem, seus remixes também procuram unir o acessível ao difícil. "Me chamam quando querem um remix que seja comercialmente viável mas que também possa ser tocado numa pista underground", explica Morales. "Sou conhecido por manter o lado melódico e vocal de uma faixa."
Mas há gente que chia. Jason Kay, do Jamiroquai, ficou uma onça quando ouviu a versão de Morales para sua "Space Cowboy". "Ele não reclamou do meu remix, mas sim do fato da música ter sido remixada. Entendo o lado dele, é um artista com uma banda, mais para o jazz e o improviso. Ele não faz dance music e não quer saber de remixes", esclarece Morales.
E completa: "Mas no final das contas, foi um de seus maiores hits. E foi o remix que vendeu e tocou, não a versão original. Aliás, acabei de remixar "Cosmic Girl", do disco novo dele. Mas ainda não sei o que ele achou."
Sobre a cena de sua cidade natal, más notícias "Está havendo muita repressão das autoridades. A tendência é de lugares pequenos, meio clube, meio bar", diz o DJ. "Nova York tem muito talento, mas faltam lugares para expor esse talento. Por isso tantos DJs de lá estão tocando fora do país."
Morales acha que os EUA ainda precisam de mais rádios tocando o som e uma mídia especializada apoiando, como é o caso da Inglaterra. "Agora em Nova York temos a rádio WKTU, onde faço um programa semanal. A rádio tem menos de um ano, mas já faz um enorme sucesso. É uma esperança."

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