São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 1996
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Os futuros Banerjs

CELSO PINTO

Com o Banespa caminhando, a passos largos, para um desfecho do tipo do Banerj, vale a pena discutir mais a fundo alguns pontos do modelo de privatização do Rio.
O governo do Rio, ao contrário do governo paulista, aceitou rapidamente a idéia de privatizar seu banco estadual e propôs um modelo inovador.
Um administrador privado faria a reestruturação do Banerj e prepararia o banco para ser privatizado no futuro, por um melhor preço.
No final das contas, todo o passivo do Estado do Rio junto ao Banerj, cerca de R$ 2 bilhões, mais um passivo previdenciário de R$ 1,2 bilhão, depósitos compulsórios do banco junto ao Banco Central e outros itens menores foram separados em um "Banerj podre", que será um banco de papel a ser liquidado pelo governo federal. A parte boa do Banerj vai para leilão em meados de dezembro, e sete bancos estão pré-qualificados para a disputa.
Como todo o passivo pesado do Banerj acabou absorvido pelo governo como prejuízo, a vantagem de ter ou não havido um administrador privado antes da privatização, do ponto de vista do contribuinte, é saber se sua ação ajudou a aumentar o preço de venda. Em outros termos, se o BC tivesse, há dois anos, absorvido a parte ruim, como está fazendo agora, e vendido ativos bons, como agências e carteiras de clientes do Banerj, teria sido mais ou menos vantajoso?
O responsável pelo modelo de privatização do Banerj, o secretário Marco Aurélio Alencar, sustenta que, há dois anos, a situação do Banerj era tão ruim que não haveria como vendê-lo.
O banco Bozano,Simonsen, que ficou com a administração do Banerj, fechou agências, cortou pela metade o número de funcionários e equilibrou os resultados operacionais. Antes, 100% das agências eram deficitárias; hoje, 90% são superavitárias -isso, sem considerar o peso do passivo estadual.
Pelo menos um banco que está examinando as contas do Banerj para eventualmente comprá-lo, tem dúvidas. Mesmo depois da reestruturação, o Banerj, na versão deste banco, continuaria com uma carteira pobre de clientes e qualidade discutível de funcionalismo. Uma razão para comprá-lo poderia ser a rede de agências, mas é pouco para justificar a reestruturação.
Alencar discorda desta avaliação e garante que existem candidatos sérios à compra do Banerj, entre eles o Bradesco e o Itaú. Está confiante que o preço de venda será vantajoso.
A um certo preço, qualquer ativo torna-se interessante. O Nacional, um banco quebrado, tornou-se interessante para o Unibanco porque o BC assumiu todo o passivo ruim do banco. A questão central é saber se o custo de ter um gestor privado no Banerj será menor que o lucro gerado pela valorização dos ativos. Ou se teria sido mais sensato liquidar o Banerj e vender logo os ativos bons (sem, necessariamente, prejudicar o depositante).
Outra discussão relevante é sobre o tipo de administrador. Um banco privado administrar outro banco gera óbvios problemas de conflitos de interesse.
Alencar admite que o modelo adotado no caso do Banerj foge dos padrões habituais encontráveis nos livros de administração. Diz que o interesse do Estado do Rio era ter alguém com larga experiência para arrumar o Banerj, daí porque optou por buscar um banco. Evitou apenas que fosse um banco de varejo, pois nesse caso o administrador poderia, teoricamente, ser um potencial interessado na compra futura.
A avaliação de Alencar é que a experiência foi positiva, mas talvez a questão mereça maior debate. O modelo de gestão privada imaginado para o Bamerindus, por exemplo, é contratar um grupo de executivos financeiros, não outro banco.
Outra questão polêmica do Banerj é a remuneração do Bozano,Simonsen, considerada alta no mercado. A defesa de Alencar é que ele foi empurrado pelo Tribunal de Contas a aceitar uma fórmula de remuneração que acabou ampliando os ganhos e levando-o a negociar um aditivo de contrato fixando um teto de R$ 36 milhões com o Bozano. Sem entrar no mérito de quem tem razão, fica claro que em qualquer novo modelo Banerj a fórmula de remuneração tem que ser melhor pensada.

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