São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 1996
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"Chocolate" aproxima desigualdades

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

É possível que o romance de Qi Chang que deu origem a "Chocolate Chinês" seja mais bem-sucedido do que o filme. Em todo caso, existem mais possibilidades literárias do que cinematográficas no encontro de duas mulheres que chegam no mesmo vôo a Toronto, Canadá, vindas da China.
Essas mulheres, Camille (Shirley Cui) e Jessie (Diana Peng) são diferentes em quase tudo.
Camille é médica, casada, madura, inteligente. Jessie é jovem, solteira, bailarina e tonta.
O filme se empenhará em mostrar que condições objetivas (a situação de imigrante), aliadas a outras, subjetivas (os homens com quem topam), podem igualar seus destinos.
Cada uma vai para um canto. Seus olhares se cruzam, dando conta do estado de suas vidas.
A desigualdade é a palavra que melhor define "Chocolate". Camille é uma personagem cuja força contamina, não raro, o filme. Jessie, ao contrário, é rala.
Assim, em nome dos fortuitos encontros entre as duas mulheres, o espectador é submetido a uma espécie de montanha russa, em que sequências bem-sucedidas alternam-se com cenas a que o espectador permanece alheio.
O que termina se impondo, apesar dos vários momentos límpidos e sutis, é o alheamento.
Quanto mais o filme avança, mais os personagens se mostram desprovidos de concretude. Passam a existir como convenções, para demonstrar que a mulher vive para sofrer, especialmente se for chinesa (como em "Lanternas Vermelhas", de Zhang Yimou).
E para provar que se pode abordar temas como sofrimento com humor (como em "Banquete de Casamento", de Ang Lee).
A essa altura dos acontecimentos, porém, o espectador sabe que "Chocolate Chinês" sucumbiu à idéia de fórmula.
(IA)

Filme: Chocolate Chinês (Chinese Chocolate)
Produção: Canadá, 1995
Direção: Yan Cui e Qi Chang
Com: Diana Peng, Shirley Cui
Quando: a partir de hoje nos cines Bristol, Eldorado 5 e circuito

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