São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 1996
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CRÉDITO MOVEDIÇO

A notícia de que a própria equipe econômica vem alertando os bancos para os perigos do crédito revela quão frágeis ainda são as bases para uma eventual retomada do crescimento econômico sustentável.
Desde o arrocho que se seguiu à crise mexicana, a economia brasileira sofre os azares de uma extensa instabilidade do crédito. O resultado prático não é necessariamente uma crise financeira, mas as vítimas continuam surgindo, do consumidor inadimplente ao varejista que erra na previsão de estoques.
A dificuldade maior está possivelmente no fato de que o ambiente não é de recessão nem de retomada sustentada. Ou seja, a concessão de crédito opera em circunstâncias movediças, volúveis. Como toda concessão de crédito é, como a própria palavra indica, uma questão de acreditar no retorno da operação, fica tudo mais difícil quando o rumo da economia torna-se mais incerto.
O governo vai frear a expansão dos últimos meses para evitar um déficit comercial maior? Haverá melhora no setor agrícola, favorecendo a concessão de crédito no interior? Os salários terão ganhos reais, ou o desemprego aumentará sem que a massa de rendimentos se recupere?
Misturam-se questões de ordem macroeconômica a dúvidas de natureza setorial ou regional. Ressalta sobretudo a heterogeneidade. E, mesmo nos casos em que tem ocorrido uma impressionante expansão do crédito e das vendas, como no setor de eletrodomésticos, o que em si é positivo, prazos mais dilatados significam também riscos maiores.
Quando o próprio governo reconhece as dificuldades, o ciclo se fecha: os lojistas ficarão mais cautelosos, concedendo menos crédito, e encomendarão menos à indústria, impedindo o aumento do emprego.
A experiência está mostrando que nem sempre oferecer mais crédito ao consumo é garantia de expansão segura das vendas, da produção e do emprego. O varejista hoje está numa situação que lembra a areia movediça: tentar escapar da armadilha pode levar a dificuldades ainda maiores.

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