São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 1996
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LOGÍSTICA DA SAÚDE

Já está mais do que comprovado que a falta de verbas está longe de ser o único problema da saúde pública no Brasil. Muitas vezes, mesmo a injeção de recursos não consegue elevar a qualidade do serviço oferecido no setor por causa de defeitos e vícios do próprio sistema. É o que mostra o episódio da falta de vacina tríplice em 25 Estados brasileiros.
O sistema de saúde do país sofre, entre outros problemas, da falta de uma logística eficiente, da pouca competência no gerenciamento dos recursos, da ausência de princípios básicos de administração. É a eterna dificuldade gerencial de levar à população (o consumidor) os medicamentos (o produto) de que ela necessita no tempo correto.
Para a diretora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, a falta de vacinas seria uma "falta entre aspas". O problema estaria ocorrendo, entre outras razões, porque muitos Estados não enviaram seus pedidos de novos lotes ou porque doses em estoque ainda estariam passando por um controle de qualidade, que levaria 30 dias. O ministério já teria 3,3 milhões de vacinas e estaria prestes a receber mais 7 milhões de doses, que demorariam, segundo previsões do próprio governo, mais 60 dias até chegar aos Estados.
As justificativas para a falta de vacinas em praticamente todo o sistema público do país incluem ainda dificuldades com fabricantes, lentidão em processos de licitação etc. Obstáculos conhecidos há tempos e que os membros da administração pública já deveriam saber como superar.
No Brasil, a velha imagem dos recursos perdidos em meio à burocracia estatal continua forte. Se mais verbas são realmente necessárias para o sistema de saúde, devem ser concedidas. Mas a atual estrutura continua provando ser ineficiente, marcada pelo desperdício e pela lentidão. Defeitos que, sem uma logística competente, dinheiro nenhum no mundo será capaz de vencer.

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