São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 1996
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Cinto ou airbag?

FERNANDO CANZIAN

São Paulo - Batendo na mesma tecla das promessas difíceis de acreditar, o ministro Antonio Kandir (Planejamento) disse esta semana que o país continuará acumulando déficits comerciais por muitos meses, e que isso não será um problema.
O argumento é que as importações de hoje serão exportações amanhã. De fato, 70% do que o país compra no exterior hoje são máquinas ou matérias-primas para a produção local. Pela lógica do ministro, logo haverá um excedente exportável. E isso acabará com os déficits comerciais que começam a minar a confiança no real.
O problema é que muita gente do ramo acha que não há tempo hábil para esperar que as importações de hoje virem exportações no futuro -equilibrando as coisas.
E muita gente também já se convenceu, de tanto o governo repetir, que não haverá uma mexida no câmbio. Traduzindo: o governo não vai, com uma canetada, arriscar desvalorizar o real para deixar produtos nacionais mais baratos e fáceis de vender lá fora.
Por isso, já se começa a calcular o tamanho da freada na economia que virá no início de 97. Com ela, cortam-se as importações e a produção local, pela falta de consumidores, poderia gerar um excedente exportável.
A tese do pé no breque é forte porque se encaixa nos planos políticos de FHC. Se conseguir aprovar a reeleição, o governo pisa no freio e só deixa o carro correr de novo em 98 -criando novamente um clima de "corrente pra frente" para reeleger o presidente.
O tamanho da freada é a incógnita. Várias medidas foram tomadas pelo governo nos últimos meses para aumentar as exportações. Desonerou-se o ICMS sobre produtos agrícolas e agora o BNDES está, finalmente, dando condições realistas para que linhas de crédito favoreçam as exportações.
Se os efeitos dessas medidas coincidirem com a aprovação da reeleição, a brecada será suave. Caso contrário, mais brusca.
Para resumir, a recomendação dos motoristas que acompanham com faróis de milha essa estrada tortuosa é uma só: prudência total nas curvas do crediário e do consumo.

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