São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 1996
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Fantasmas da Malásia

VALDO CRUZ

Brasília - Empresários da Malásia estariam entrando "clandestinamente" no Brasil e comprando madeireiras em dificuldades. Objetivo: explorar a madeira tropical da Amazônia, escapando da fiscalização.
A suspeita é do ministro do Meio Ambiente, Gustavo Krause. Como os malásios têm um passado de devastação, Krause já começou a tomar algumas medidas para frear o apetite dos empresários asiáticos.
A primeira delas foi vetar o pedido de uma madeireira no Amazonas para exploração de 200 mil hectares de floresta.
O governo sabe que a empresa foi comprada por empresários da Malásia, mas até hoje não encontrou nenhum registro identificando a mudança de controle acionário da madeireira.
A Malásia detém hoje 80% do comércio mundial de madeira tropical, um negócio que cresce 2,5% ao ano.
Com a exploração desenfreada das florestas asiáticas, o negócio de cortar madeira no outro lado do mundo está se esgotando. Aí, os malásios começaram a dirigir suas serras elétricas para a América do Sul.
Entraram, primeiro, na Guiana e no Suriname. Depois, passaram a investir na floresta amazônica brasileira, um tapete verde de 3,3 milhões de km², com alguns buracos.
Desde o descobrimento do Brasil até 1994, cerca de 10% dessa área foi devastada. Parece pouco, mas não é. Uma floresta maior do que o Estado de São Paulo desapareceu.
O interesse nesse mar de árvores trouxe a Brasília, na última quarta-feira, o ministro da Indústria Primária da Malásia, Lim Keng Yaik. Ele esteve no gabinete de Gustavo Krause e acenou com investimentos de US$ 300 milhões.
Levou para o seu país um recado: o Brasil não discrimina capital -que o diga a equipe econômica-, mas os "negócios devem ser feitos às claras". Para que a Amazônia não ganhe novas clareiras.

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