São Paulo, sábado, 23 de novembro de 1996
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Fazendeiros temem devastação ambiental

ESTANISLAU MARIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM (PA)

Jeremias Lunardelli, 58, e o filho André Lunardelli, 33, fazendeiros que têm 20 mil hectares de terra improdutiva -segundo o Incra- no sul do Pará, disseram ser favoráveis ao aumento do ITR (Imposto Territorial Rural), mas afirmaram que as novas alíquotas vão gerar devastação em Estados com áreas de preservação ambiental.
"Muitos proprietários vão derrubar parte de mata e plantar capim", afirma André Lunardelli. Por lei, apenas 20% das áreas da Amazônia podem ser derrubadas; os 80% restantes devem permanecer reserva de floresta.
"A madeira será vendida, e a plantação do capim tem um custo baixo. Assim, o proprietário cria gado e diz que a terra é produtiva, ou, pelo menos, reduz a taxa de improdutividade e consequentemente o imposto", disse André, que fez mestrado em macroeconomia na FEA (Faculdade de Economia e Administração) da USP.
"O presidente FHC acertou no aumento do imposto para terras improdutivas, mas duvido que o Incra consiga administrar as terras confiscadas e fazer uma reforma agrária eficiente", disse Jeremias.
Paulistas que fizeram fortuna no Pará e em Goiás, onde também têm fazendas produtivas, eles disseram, por telefone da fazenda em Teresópolis (próximo a Goiânia), que criar capim na área improdutiva não é o objetivo deles.
Jeremias afirmou que, com o novo ITR, deve negociar a fazenda com o Incra, pois ela já dava prejuízo. "Estou pagando um imposto anual de cerca de R$ 16 mil. Com o aumento anunciado, vou pagar no próximo ano R$ 54 mil."
Eles disseram que tentam há dez anos vender a terra, em São Félix do Xingu (680 km a sudoeste de Belém), mas não encontram comprador. A área improdutiva equivale a 125 parques do Ibirapuera.
Para André, a MP que aumenta o ITR das fazendas improdutivas de 5% para 20% do valor da área foi acertada, mas "muito brusca".
"Precisamos acabar com a cultura de fazer da terra uma poupança, mas o presidente poderia ter estipulado prazos transitórios para a progressividade do aumento." Ele disse ter votado em FHC, ser "ideologicamente" ligado ao PSDB, favorável à reeleição e que votaria em FHC novamente.

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