São Paulo, sábado, 23 de novembro de 1996
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Fazendeiros querem volta da UDR nacional

LUIZ MALAVOLTA

LUIZ MALAVOLTA; FRANCISCO CÂMPERA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BAURU

Representantes de vários Estados se reúnem hoje no Pontal do Paranapanema para discutir articulação

Fazendeiros de vários Estados brasileiros vão discutir hoje, em Presidente Prudente (558 km a oeste de São Paulo), a rearticulação da UDR (União Democrática Ruralista) em nível nacional.
A informação foi prestada ontem à Agência Folha por Ronaldo Caiado, 47, ex-presidente nacional da UDR e ex-deputado federal por Goiás.
Caiado disse que não vai participar da direção da UDR, mas apóia o ressurgimento da entidade, por discordar "dessa reforma agrária".
A UDR foi recriada em setembro, no Pontal do Paranapanema, diante do recrudescimento das invasões de fazendas da região por sem-terra.
Hoje à tarde, a UDR, presidida provisoriamente pelo fazendeiro Roosevelt Roque dos Santos, realiza seu primeiro leilão de gado para arrecadar fundos.
Serão leiloadas mil cabeças de gado. Durante o leilão, os fazendeiros vão prestar uma homenagem póstuma ao pecuarista Marcelo Negrão, que morreu no mês passado.
Negrão ficou conhecido por ser o primeiro fazendeiro do Pontal a armar um grupo de funcionários para impedir a invasão por sem-terra da fazenda Santa Rita, em Mirante do Paranapanema, de sua propriedade. Ele morreu de aneurisma cerebral.
Caiado criticou o governador Mário Covas por deixar, segundo ele, "o Pontal virar essa baderna".
"O Pontal do Paranapanema é um foco de tensão sem precedentes. Parece até o Nordeste da época do cangaço. Só que o presidente Getúlio Vargas teve peito para enfrentar Lampião e seus cangaceiros", afirmou Caiado.
Para o ex-presidente da UDR, Covas tem permitido que o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) "desrespeitem a lei e a ordem".
"Eles começaram com invasões em uma fazenda poucos anos atrás e hoje já destruíram 36 fazendas. Isso no Estado mais rico do Brasil e que tem as terras mais caras do país", afirmou.
Caiado afirmou que o MST promove uma "verdadeira guerrilha" no Pontal do Paranapanema. O ex-presidente da UDR evitou críticas a Fernando Henrique Cardoso, atribuindo a responsabilidade no Pontal apenas a Covas.
Convênio
O governador Mário Covas e o ministro da Política Fundiária, Raul Jungmann, assinaram convênio, ontem, em São Paulo, destinando R$ 30 milhões do governo federal para a reforma agrária no Pontal do Paranapanema.
O convênio celebra o acordo feito com nove fazendeiros no início deste mês, quando o ministro anunciou a liberação da verba para assentar 1.400 famílias.
Na ocasião também foi divulgado a mudança do pagamento das indenizações, que passou de 20% para 30% em dinheiro, e o restante em TDA's (Títulos da Dívida Agrária), resgatáveis em cinco anos.
As indenizações não incidem sobre as terras, porque são devolutas, mas nas benfeitorias construídas nas áreas.
A coordenadora do Itesp (Instituto de Terras de São Paulo), Tânia Andrade, disse que, se os fazendeiros não fecharem acordo até dezembro, o governo vai à Justiça.
"Vamos pedir perícia judicial e pagar menos do que agora", ameaçou. Segundo ela, o convênio é válido até o final de 1996, e os recursos podem ser perdidos se não forem utilizados.
O ministro garantiu que os TDA's começam a ser emitidos a partir do dia 25 de novembro para os que aceitarem o acordo.

Colaborou Francisco Câmpera, free-lance para a Folha.

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