São Paulo, sábado, 23 de novembro de 1996
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Atores viram bonecos

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

É uma brincadeira, como descreveu o próprio autor, Ariano Suassuna.
"Torturas de um Coração, ou Em Boca Fechada Não Entra Mosquito" não chega a uma hora de espetáculo e, apesar de interpretada por atores, estes buscam seguir os movimentos e a empostação vocal do teatro de mamulengo, ou de bonecos.
Não à toa, está prevista uma apresentação em matinê, no domingo. A peça tem muito de infantil, embora não receba tal classificação.
Adulto ou infantil, de bonecos ou atores, é uma peça que, mais uma vez, prova a genialidade de um dramaturgo como Ariano Suassuna, de clássicos populares brasileiros como o "Auto da Compadecida".
Ainda que escritos para uma brincadeira, uma brincadeira em que o próprio autor manipulava o protagonista, Benedito, são versos populares em que não há palavra jogada fora -em que o humor plenamente desenvolvido e a inteligência estão sempre presentes.
No momento em que se acompanha a nova dramaturgia, tantas vezes gastando cenas e palavras quase sem propósito, Ariano Suassuna surge, também aqui, como uma aula.
O próprio dramaturgo viu as qualidades da peça de bonecos, escrita em 1951, e partiu dela para escrever "A Pena e a Lei", um de seus clássicos.
"Torturas de um Coração" compõe o primeiro ato de "A Pena e a Lei", inteiramente reescrito e colocado em outra circunstância. Mas estão lá os mesmos personagens, ou quase, do negro Benedito ao cabo e a Vicentão.
A montagem de Almir Telles, do grupo carioca Sarça de Horeb, segue a sugestão, que é do próprio autor paraibano, de ter atores interpretando, agindo como bonecos.
Com muito tempo de estrada, a montagem chega a São Paulo sem qualquer dificuldade com tal interpretação. Pelo contrário, ela está sempre a serviço do texto e do humor, sem entraves.

Peça: Torturas de um Coração, ou Em Boca Fechada Não Entra Mosquito
Autor: Ariano Suassuna
Elenco: Alexandre Mofati, Celso Taddei e outros
Quando: qui a sáb, às 21h; dom, às 16h e 20h Onde: teatro Brincante (r. Purpurina, 428, Vila Madalena, tel. 816-0575)
Quanto: R$ 8 (matinê de dom), R$ 12 (qui e sex) e R$ 15 (sáb e dom 20h)

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