São Paulo, sábado, 23 de novembro de 1996
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Página azulzinha

MARTA SALOMON

Brasília - O mundo é azulzinho na página que o Ministério da Fazenda tem na rede mundial de computadores, a Internet -leitura recomendada pelo ministro Pedro Malan.
O boletim de acompanhamento macroeconômico recém-implantado na página divulga a interpretação que o governo gostaria que todos dessem aos números da economia brasileira.
Mesmo o déficit na balança comercial -pesadelo do momento- ganha um tom otimista. Mais do que o número, vale a leitura que dele se faz. Porque, como dizem os economistas oficiais, "cada número tem seus matizes".
O buraco de US$ 2,9 bilhões da balança comercial em dez meses, por exemplo. O governo quer que se leia aí a "recuperação" da economia e a "reestruturação" do sistema produtivo.
O ministério insiste: o déficit era previsível, foi menor que o acumulado no mesmo período de 95 e será contido a médio e longo prazos pelo aumento das exportações.
Para o futuro próximo, o ministério projeta um crescimento da inadimplência. Até a desgraça de quem vai ficar com a corda no pescoço ganha uma leitura positiva. Garantiria um freio de arrumação da economia no início do ano.
É possível que a propaganda da página feita por Malan em Londres aumente a crença de que nada atrapalhará a estabilidade, nem os planos de reduzir a inflação a um dígito no ano que vem. A média de leitura tem sido de 500 pessoas por dia.
Não se encontra na página a polêmica exposição de motivos assinada por Malan e outros quatro ministros dizendo que o dinheiro da privatização será usado integralmente para abater a dívida pública.
FHC já desautorizou a declaração, que só aumentou o tom das críticas à venda da Vale do Rio Doce. Por falar em Vale, é considerada otimista no governo a estimativa de que o governo vá arrecadar R$ 4 bilhões com a venda de suas ações na estatal. Isso também não está na "page".

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