São Paulo, sábado, 23 de novembro de 1996
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A guerra das latas de cerveja

CARLOS HEITOR CONY

Natal - Ainda bem que pouco me interessei pela eleição municipal de minha paróquia. Seria não apenas perda de tempo, mas exercício de péssimo gosto.
Não via diferença entre os dois candidatos a prefeito do Rio, tampouco entre as forças que apoiavam as duas candidaturas principais.
Desde que o divisor de águas ficou sendo o programa Rio-Cidade -uma palhaçada urbanística que distraiu o carioca amante de novidades, boas ou más-, era inevitável que tudo terminasse num circo, como de fato acabou.
Não compreendo como um arquiteto maior de idade, eleito para a prefeitura da segunda maior cidade do país, tenha tido a estranhíssima idéia de comemorar a vitória no Circo Voador. Uma arena punk-decadente e -segundo o alcaide Maia, que só depois da porta arrombada descobriu o que todos sabiam e ele próprio estava careca de saber- reduto de uma turma pesada, movida a droga e chegada à violência.
De alguma forma, o discípulo Conde superou o mestre Maia na criação de um factóide. Ia levando com uma lata de cerveja no vasto peito espanhol. Só não foi atingido porque um abnegado puxa-saco prestou-se ao sacrifício de receber o petardo -com o que garantiu, no mínimo, uma efetivação ou no cargo de segurança ou de mártir da causa, função ainda não remunerada nos quadros da prefeitura.
Dessa vez, o alcaide Maia foi apanhado no contrapé. Para criar um fato proporcional em sentido contrário, ele deveria ter ido ao circo com um caminhão de latas de cerveja para promover uma luta campal com os punks. Com mais munição (paga pelo erário) ele sairia vencedor mais uma vez e se credenciaria definitivamente à candidatura presidencial pelo PFL.
Perdeu essa oportunidade. Mandou fechar o circo. Agiu como um Jânio Quadros deslocado no tempo e lugar. De qualquer forma, o episódio consolidou o aspecto circense da eleição municipal do Rio.

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