São Paulo, sábado, 23 de novembro de 1996
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Cristãos e a educação política

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

A Campanha da Fraternidade de 1996 há de produzir frutos, especialmente na formação das lideranças políticas. Em muitas dioceses foram criados cursos para estudar e aprofundar o exercício da cidadania, à luz do Evangelho.
Cresceu no cristão a convicção de que assumir a cidadania e empenhar-se na ação política é exigência da fé cristã e exímia expressão da caridade.
Entre os resultados mais consistentes para intensificar a co-responsabilidade das comunidades cristãs na promoção do bem comum destacamos a criação de centros de formação política.
Serve de exemplo o Ecep (Escola Cristã de Educação Política), em Santa Maria (RS). O curso é distribuído em cinco etapas intensivas no decorrer do ano. Abrange as dioceses de Santa Maria, Cachoeira do Sul, Cruz Alta, Santa Cruz do Sul, Santo Ângelo e Uruguaiana. A escola está em pleno funcionamento e com muito boa aceitação.
O Ecep propõe-se a capacitar lideranças para cooperar na vida política, a partir de princípios éticos e valores evangélicos, na perspectiva de uma sociedade justa, solidária e participativa.
Quais os princípios que caracterizam esses cursos? A fidelidade ao Evangelho e ao ensino social da igreja, o compromisso com a democracia e com os excluídos, a coerência entre doutrina e prática de vida, o respeito ao pluralismo ideológico e a abertura ecumênica.
A resposta dos participantes denota grande interesse pela iniciativa. Compareceram, além de pessoas que já estão no exercício da vida partidária, os que acabam de ser eleitos e os que se preparam para novas oportunidades e profissionais ligados à educação e comunicação social.
Na perspectiva da doutrina social da igreja, a programação inclui a análise da conjuntura, o estudo dos sistemas e ideologias políticas atuais, a missão do Estado brasileiro, a história e proposta dos partidos e a avaliação de práticas políticas.
O curso oferece algumas sessões abertas ao público. Na noite de 21/11 foram tratados temas sobre a conjuntura nacional. Sobressaíam a preocupação ética com as medidas urgentes em bem da saúde e educação do povo e o empenho pela reforma agrária e agrícola com expectativa de que resultem benefícios do novo imposto sobre a terra.
Quanto à reforma administrativa e a eventual reeleição, houve consenso em requerer amplo debate no Congresso, de modo a evitar precipitação e soluções casuísticas. Constatou-se que a tese da privatização da Vale do Rio Doce não apresenta razões convincentes. Pelo contrário, traria um grave dano ao patrimônio nacional e ao futuro do nosso desenvolvimento.
Permanece o anseio comum de encontrar formas concretas de cooperação da sociedade nos programas dos municípios.
O importante é perceber, à luz de Deus, que o cristão não pode se omitir diante das situações das quais depende a vida do povo. Abre caminho de esperança para o mundo a atuação destemida e constante do Santo Padre João Paulo 2º em bem das populações sofridas de Ruanda, Burundi e Zaire e a insistência humanitária para que seja suspenso o embargo econômico contra Cuba.
A iniciativa das Escolas de Educação Política há de contribuir para que os cristãos, especialmente os jovens, assumam, com coragem, o compromisso evangélico da participação política.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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