São Paulo, sábado, 23 de novembro de 1996
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O importante é a qualidade

WELLINGTON MOREIRA FRANCO

A proposta que o governo apresenta com o PDV abre a possibilidade, para o servidor, de optar entre ficar no serviço público e deixá-lo, o que é, em princípio, uma estratégia de tratamento da questão do pessoal na administração pública melhor que a ameaça, o terror, a denúncia do desinteresse e da inoperância do servidor público brasileiro.
Do ponto de vista de benefícios, creio que um percentual sobre a remuneração, como método, tende a beneficiar aqueles que têm salários mais altos, que são os quadros mais qualificados da administração pública brasileira. Evidentemente, não deve ser tão estimulante para os servidores com salários menores, que ainda vão ter que enfrentar uma mudança profunda no mercado de trabalho brasileiro.
Hoje, o grande problema do mercado é que as profissões para as quais essas pessoas foram tradicionalmente treinadas estão acabando. Não há nem qualificação para as novas profissões nem um programa adequado de formação de mão-de-obra do governo.
Só poderão atuar como microempresários, além disso, aqueles que dispuserem de um capital razoável. Isso não basta, porém; é preciso investimento, conhecimento e capacidade instalada para que haja capacidade produtiva. Será que os futuros ex-servidores terão tudo isso?
Percebo uma grande curiosidade em conhecer o programa. Não sei se esse grande interesse vai redundar em um número expressivo de adesões. A iniciativa tem um aspecto de respeito à atividade de cada um. Não é impositivo nem autoritário, mas, sozinho, não vai resolver. É necessário que venha acompanhado de uma série de outras iniciativas com o objetivo de enxugar a máquina e qualificá-la.
Ao usuário que quer um serviço público de qualidade não importa o número de pessoas. O que ele quer é qualidade do produto. A grande crise, para o usuário-contribuinte, é que esse produto, hoje, é de péssima qualidade. Paga-se muito imposto por um serviço muito ruim.

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